terça-feira, 26 de julho de 2011

O dia que também é meu...

Que maior felicidade acontece
que aquela em que, num momento sublime,
vemos nos olhos de uma criança
a chama que nos aquece
e no seu sorriso que a alegria imprime
o instante em que do sonho se faz esperança...

domingo, 24 de julho de 2011

Terminou a 98ª edição do 'Tour' de France

Acabou hoje mais um Tour. Para quem não esteja familiarizado com esta designação, 'ciclisticamente falando', Tour é a Volta a França em bicicleta, um espectáculo extraordinário que durante 3 semanas enche a paisagem do colorido próprio dos grandes momentos, com as estradas que serpenteiam pelos vales verdes e pelas encostas pedregosas das montanhas dos Alpes e dos Pirenéus onde, aqui e além, o branco da neve persiste e onde sempre está presente uma multidão entusiasta que acolhe a 'caravana' dos verdadeiros gigantes das bicicletas nas cores garridas das camisolas, pelo pelotão estridente dos carros de apoio, das motos das televisões e dos jornalistas. É o último fôlego de um sprint final  de loucura na busca de uma linha que se atravessa como se a vida dependesse dela ou de uma chegada num esforço quase desumano para vencer uma estrada que se empina até ao cume.  
Ganhou, este ano, pela primeira vez na história do Tour, um australiano, de seu nome Carel Evans que aqui aparece ladeado pelos 2 irmãos, Andy e Frank Schleck , luxemburgueses que com ele subiram ao pódio em Paris.
Cadel Evans passou, hoje, a fazer parte de uma extensa galeria de heróis onde cabem nomes que ficaram para sempre nos livros e na nossa recordação (lembram-se do nosso Agostinho? Claro que sim!) e muitos outros cujos nomes provavelmente só os mais conhecedores saberão, mas anónimos que ajudaram tantas e tantas vezes de forma decisiva o tal líder a chegar aos Champs Ellisés de amarelo vestido. 
Cadel Evans mereceu o triunfo de 2011, por tudo o que demonstrou durante etapas e etapas, principalmente sabendo no contra relógio final manter os preciosos segundos que ganhara na véspera ao deixar para trás os dois irmãos Schleck e, sobretudo, um prémio pela persistência, depois de nas duas últimas edições ter sido segundo, atrás de Alberto Contador e em 2010, apenas por 7 segundos.

Cadel Evans, ao centro, com os irmãos Schleck, que completaram o pódio

Passam hoje 6 anos que o norte americano Lance Armstrong venceu o seu 7º Tour consecutivo, feito verdadeiramente inédito e que importa recordar pois nunca antes havia sido alcançado tal resultado e muito dificilmente alguém deverá repetir semelhante façanha. Mas, Lance Armstrong ficará igualmente para a história pela sua vitória, quiçá mais importante que os  nove tours e que foi a sua vitória sobre o cancro.


Lance fundou a "Fundação Lance Amstrong" para a luta contra o cancro e relatou, em vários livros, a sua própria história para demonstrar que se pode superar tudo desde que se tenha energia e querer. O seu primeiro livro "It’s not about the bike", vendeu milhares de exemplares, êxito que foi repetido com a sua biografia "Vontade de Vencer – A Minha Corrida contra o cancro.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

poema matemática

Um Quociente apaixonou-se, um dia, doidamente por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do Ápice à Base... uma figura Ímpar; olhos rombóides, boca trapezóide, corpo ortogonal, seios esferóides. 

Fez da sua, uma vida paralela à dela, até que se encontraram no Infinito. 
"Quem és tu?" indagou ele com ânsia radical. 
"Sou a soma do quadrado dos catetos. Mas podes chamar-me Hipotenusa." 
E de falarem descobriram que eram o que, em aritmética, 
corresponde a alma irmãs primos-entre-si. 
E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz. 
Numa sexta potenciação 
traçando ao sabor do momento e da paixão, 
rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais. 
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas 
e os exegetas do Universo Finito. 
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. 
E, enfim, resolveram casar-se. 
Constituir um lar. 
Mais que um lar. 
Uma Perpendicular. 
Convidaram para padrinhos o Poliedro e a Bissectriz. 
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro 
sonhando com uma felicidade Integral 
e diferencial. 
E tiveram uma secante e três cones 
muito engraçadinhos. 
e foram felizes até àquele dia 
em que tudo, afinal, se torna monotonia. 
Foi então que surgiu o Máximo Divisor Comum... 
frequentador de Círculos Concêntricos. 
Viciosos. 
Ofereceu-lhe, a ela, uma Grandeza Absoluta, 
E reduziu-a a um Denominador Comum. 
Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais um Todo. 
Uma Unidade. 
Era o Triângulo, chamado amoroso. 
E desse problema ela era a fracção mais ordinária. 
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade. 
E tudo que era espúrio passou a ser Moralidade 
Como aliás, em qualquer Sociedade.

Agradecimentos à minha sobrinha Joana que mo enviou e com a devida vénia à autora que não tenho o prazer de conhecer, Inês Almeida Ferreira.

terça-feira, 12 de julho de 2011

A MAIOR LAVANDARIA DE DINHEIRO DO MUNDO AMEAÇA FALIR

A Suíça estremece. Zurique alarma-se. Os belos bancos, elegantes, silenciosos de Basileia e Berna estão ofegantes. Poderia dizer-se que eles estão assistindo na penumbra a uma morte ou estão velando um moribundo. Esse moribundo, que talvez acabe mesmo morrendo, é o segredo bancário suíço. O ataque veio dos Estados Unidos, com o presidente Obama.

O primeiro tiro de advertência foi dado na quarta-feira. A UBS - União de Bancos Suíços, gigantesca instituição bancária suíça viu-se obrigada a fornecer os nomes de 250 clientes americanos por ela ajudados para defraudar o fisco. O banco protestou, mas os americanos ameaçaram retirar a sua licença nos Estados Unidos. Os suíços, então, passaram os nomes. E a vida bancária foi retomada tranquilamente. Mas, no fim da semana, o ataque foi retomado. Desta vez os americanos golpearam forte, exigindo que a UBS forneça o nome dos seus 52.000 clientes titulares de contas ilegais!

O banco protestou. A Suíça está temerosa. O partido de extrema-direita, UDC (União Democrática do Centro), que detém um terço das cadeiras no Parlamento Federal, propõe que o segredo bancário seja inscrito e ancorado pela Constituição federal. Mas como resistir? A União de Bancos Suíços não pode perder sua licença nos EUA, pois é nesse país que aufere um terço dos seus benefícios. Um dos pilares da Suíça está sendo sacudido. O segredo bancário suíço não é coisa recente.

Esse dogma foi proclamado por uma lei de 1934, embora já existisse desde 1714. No início do século 19, o escritor francês Chateaubriand escreveu que neutros nas grandes revoluções nos Estados que os rodeavam, os suíços enriqueceram à custa da desgraça alheia e fundaram os bancos em cima das calamidades humanas. Acabar com o segredo bancário será uma catástrofe económica.

Para Hans Rudolf Merz, presidente da Confederação Helvética, uma falência da União de Bancos Suíços custaria 300 biliões de francos suíços ou 201 milhões de dólares. E não se trata apenas do UBS. Toda a rede bancária do país funciona da mesma maneira. O historiador suíço Jean Ziegler, que há mais de 30 anos denuncia a imoralidade helvética, estima que os banqueiros do país, amparados no segredo bancário, fazem frutificar três triliões de dólares de fortunas privadas estrangeiras, sendo que os activos estrangeiros chamados institucionais, como os fundos de pensão, são nitidamente minoritários.

Ziegler acrescenta ainda que se calcula em 27% a parte da Suíça no conjunto dos mercados financeiros offshore" do mundo, bem à frente de Luxemburgo, Caribe ou o extremo Oriente. Na Suíça, um pequeno país de 8 milhões de habitantes, 107 mil pessoas trabalham em bancos. O manejo do dinheiro na Suíça, diz Ziegler, reveste-se de um carácter sacramental. Guardar, recolher, contar, especular e ocultar o dinheiro, são todos actos que se revestem de uma majestade ontológica, que nenhuma palavra deve macular e realizam-se em silêncio e recolhimento...

Onde param as fortunas recolhidas pela Alemanha Nazi? Onde estão as fortunas colossais de ditadores como Mobutu do Zaire, Eduardo dos Santos de Angola, dos Barões da droga Colombiana, Papa-Doc do Haiti, de Mugabe do Zimbabwe e da Máfia Russa? Quantos actuais e ex-governantes, presidentes, ministros, reis e outros instalados no poder, até em cargos mais discretos como Presidentes de Municípios têm chorudas contas na Suíça? Quantas ficam eternamente esquecidas na Suíça, congeladas, e quando os titulares das contas morrem ou caem da cadeira do poder, estas tornam-se impossíveis de alcançar pelos legítimos herdeiros ou pelos países que indevidamente espoliaram?

Porquê após a morte de Mobutu, os seus filhos nunca conseguiram entrar na Suíça? Tudo lá ficou para sempre e em segredo... Agora surge um outro perigo, depois do duro golpe dos americanos. Na mini cúpula europeia que se realizou em Berlim, (em preparação ao encontro do G-20 em Londres), França, Alemanha e Inglaterra (o que foi inesperado)  chegaram a um acordo no sentido de sancionar os paraísos fiscais.

"Precisamos de uma lista daqueles que recusam a cooperação internacional", vociferou a chanceler Angela Merkel. No domingo, o encarregado do departamento do Tesouro britânico Alistair Darling, apelou aos suíços para se ajustarem às leis fiscais e bancárias europeias. Vale observar, contudo, que a Suíça não foi convidada para participar do G-20 de Londres, quando serão debatidas as sanções a serem adoptadas contra os paraísos fiscais.

Há muito tempo se deseja o fim do segredo bancário. Mas até agora, em razão da prosperidade económica mundial, todas as tentativas eram abortadas. Hoje, estamos em crise. Viva a crise!!! Barack Obama, quando era senador, denunciou com perseverança a imoralidade desses remansos de paz para o dinheiro corrompido. Hoje ele é presidente. É preciso acrescentar que os Estados Unidos têm muitos defeitos, mas a fraude fiscal sempre foi considerada um dos crimes mais graves no país.

Para muito breve, a queda do império financeiro suíço!

BdP agrava previsões: recessão muito mais profunda


O Banco de Portugal ( BdP ) reviu as suas previsões para a economia portuguesa no Boletim Económico de Verão. As novas projecções são muito mais pessimistas do que as que constavam do Boletim de Primavera, que datava de Abril. 
Em vez de 1,4%, a economia portuguesa registará uma contracção de 2% este ano e contrair mais 1,8% em 2012.
A culpa da contracção é repartida por vários componentes: o consumo privado vai cair 3,8% em 2011 e 2,9% em 2012, quando antes o BdP apontava para descidas mais suaves de 1,9 e 1%, respectivamente. 
O consumo público também vai recuar 6,3% este ano (anterior previsão era de -6,6%) e 4,4% no ano que vem (antes previa-se uma descida de 1%). 
Do lado do investimento, o BdP prevê agora quebras de 10,8 e 10% este ano e no ano que vem, em vez de descidas de 5,6 e 1,3%.
A procura interna dá um forte contributo negativo para o andamento do PIB (-6% este ano e -4,6% em 2012), já que vai recuar 5,6% em 2011 (em vez dos anteriores 3,6%) e 4,4% em 2012 (em vez de 1%).


Corte de défice e endividamento vai ser penoso
A desalavancagem da banca, deverá «condicionar o acesso dos agentes económicos ao crédito, constituindo um factor limitativo adicional da despesa, em particular de consumo de bens duradouros e de investimento privado, não obstante a redução esperada na procura de crédito».
O BdP aponta para uma taxa de inflação de 3,4% este ano, muito por causa dos aumentos de impostos e de «um aumento muito significativo dos preços de alguns bens e serviços sujeitos a regulação», a que se junta o aumento do preço do petróleo. 
Em 2012, a taxa de inflação deverá já recuar para 2,2%.


Possível renascer da crise de dívida europeia
O Banco de Portugal alerta, ainda que as actuais projecções «caracterizam-se por um nível de incerteza particularmente elevado pela possibilidade de eventuais desenvolvimentos económicos e financeiros adversos a nível internacional, bem como o recrudescimento da crise soberana ao nível europeu. 
Também o impacto das medidas de austeridade é «de difícil avaliação, pelas alterações significativas e abrangentes que deverão implicar no funcionamento da economia».

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Grécia é o 4º importador mundial de armamento

Atenas endividou-se a bancos franceses e alemães para comprar armas a empresas francesas e alemãs.
Austeridade imposta aos gregos vai servir também para pagar material de guerra
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A Grécia, país em convulsão, ameaçado pela bancarrota e sujeito às mais duras medidas de austeridade imposta pela troika formada pela Comissão Europeia, FMI e BCE, é o quarto maior importador mundial de armas e nos primeiros nove anos do século em curso comprou material militar, em grande parte desnecessário, num valor superior a 11 mil milhões de dólares, cerca de oito mil milhões de euros. Um estudo realizado pelo jornalista francês Jean-Louis Denier revela que, ao nível europeu, os países a cujos bancos a Grécia mais deve – França e Alemanha – são também aqueles onde as empresas de armamento mais equipamento militar vendem à Grécia.
O trabalho do jornalista francês baseia-se em dados obtidos em relatórios da NATO e também em investigações de juízes gregos e alemães sobre os subornos de empresas norte-americanas, francesas e alemãs a políticos do PASOK e da Nova Democracia (direita) e também dirigentes militares gregos, subornos esses que ascendem a mais de mil milhões de euros.
Os mil milhões de euros gastos em armas pela Grécia no ano de 2009 representaram 4,3 por cento do PIB, uma percentagem superior à aplicada na educação – quatro por cento. Na União Europeia, em termos equivalentes, apenas a Eslováquia gasta menos que a Grécia em educação e cultura. A França, actualmente envolvida nas guerras do Afeganistão e da Líbia, tem um orçamento militar de 2,2 por cento do PIB.
Relatórios da NATO revelam que só entre 2005 e 2009, coincidindo em grande parte com a chamada crise financeira dos subprimes, as despesas militares da Grécia cresceram 33 por cento, de cerca de quatro mil milhões de euros para 5300 milhões de euros. Isto significa que grande parte do dinheiro emprestado desde 2007 por bancos franceses e alemães à Grécia para comprar armas resultou dos apoios estatais, logo dos contribuintes, a esses bancos para efeitos de “securização”. Em vez disso, os bancos aplicaram-no em especulação, agiotagem e reforço de equipamentos bélicos, designadamente na Grécia.
Grande parte da actual dívida soberana da Grécia resultou, pois, de empréstimos de bancos norte-americanos, franceses e alemães para a compra de equipamento militar de super-potência por um país com 11 milhões de habitantes. Por exemplo, Atenas gastou dois mil milhões de dólares em aviões de combate norte-americanos, 1600 milhões de euros em aviões de combate franceses Mirage 2000 e cinco mil milhões de euros em seis submarinos alemães, uma situação que replica ocorrências noutras paragens.
A Grécia é o terceiro cliente da França em compra de armas – aviões, mísseis, blindados, navios de guerra. O eurodeputado verde Daniel Cohn-Bedit revelou no seu blogue “Rue89” que o presidente francês Sarkozy e o seu primeiro ministro Fillon se dirigiram a Papandreu quando este formou governo prometendo desbloquear verbas “para vos ajudar mas para isso têm que continuar a pagar os contratos de armamentos assinados pelo governo de Karamanlis” (chefe da Nova Democracia e anterior primeiro ministro grego).
Em pleno período em que o povo grego contesta nas ruas as sucessivas medidas de austeridade impostas por Papandreu sob ordens da troika, o governo grego está comprometido em continuar a pagar, por exemplo, 2500 milhões de euros em fragatas e 400 milhões de euros em helicópteros de combate.
Quem é o “inimigo” da Grécia à sombra do qual Atenas faz tais investimentos em guerra? A Turquia, vizinho e também membro da NATO. Durante anos, quando os Estados Unidos vendiam os aviões de combate mais modernos à Turquia, por exemplo os F-35, informavam Atenas, que imediatamente adquiria o mesmo número de aparelhos do mesmo tipo para assegurar a paridade.
A Turquia, porém, tem vindo gradualmente a alterar a política de investimento militar. Em 2009 sugeriu à Grécia uma redução comum de 20 por cento de despesas militares, mas Atenas recusou. Ainda assim, a Turquia, que foi o sexto importador mundial de 1998 a 2008, desceu desde então para 10º. A Grécia, pelo contrário, mantém-se há dez anos no quarto posto.
Apesar de situações deste tipo e do elevadíssimo endividamento da Grécia, que ameaça a solvência do país, o secretário norte-americano da Defesa continua a dizer que os “europeus gastam pouco em armamento”.
A insatisfação não é um exclusivo norte-americano. Segundo o trabalho de Jean-Louis Denier, quando, a partir de 2009, Atenas começou a ter dificuldades em honrar os compromissos com bancos e empresas de armamento essa terá sido uma das razões que levou a srª Merkel a indispor-se com Papandreu e a impor, em conjunto com as instituições europeias e o FMI, a política de resgates. De onde se conclui que grande parte dos sacrifícios impostos aos gregos servem para liquidar compras de armamentos em quantidade e qualidade escandalosamente desproporcionados para as necessidades de Atenas e para responder às supostas “ameaças” pendentes sobre um país como a Grécia.    

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O LIXO

Num processo natural muito do que se considera lixo pode ser reciclado e portanto reutilizado, desde que apropriadamente tratado, o que além de gerar muitos empregos, aumenta o rendimento da colectividade, reduz a procura de matérias-primas e produz energia.
A agência Moody’s ao baixar quatro ‘andares’ ao rating da República, e depois de fazer o mesmo às empresas públicas, aos bancos, a Lisboa, a Sintra, à Madeira e aos Açores, designando a nossa dívida como lixo, apenas nos concedeu a possibilidade de gerarmos empregos, de produzirmos energia e de cortarmos nas importações de matérias-primas. Portugal fica transformado num imenso ‘ponto verde’, numa amplíssima ETAR, num gigantesco vidrão, num grandioso aterro sanitário. E, quanto maior a nossa dívida, maior a possibilidade de crescimento.
À minha porta, alinhados no passeio, estão três contentores para o lixo comum, mais um de cor amarela para plástico, outro de cor azul para cartão e papel, outro de cor verde para vidro, um mais pequeno alaranjado para pilhas e um cilindro para óleos e, regularmente, um camião para, agarra-os e iça-os com uma grua apropriada, dá-lhes umas sacudidelas e despeja-os para o seu interior. É parte da nossa dívida vai ali. Se multiplicarmos por um sem número de outros locais idênticos, espalhados pelas cidades, vilas e lugares deste país, teremos certamente a quase totalidade da nossa dívida em contentores como os que se encontram à minha porta.
As agências de notação financeira são pagas para darem indicações a quem empresta dinheiro. Mas, para haver quem empreste dinheiro é necessário, claro está, que exista quem necessite de dinheiro. Mas, enquanto o dinheiro que foi emprestado não for devolvido (normalmente) com juros a quem emprestou, então existe a dívida. Ora aí está! A dívida! Mas, como já se viu que é vantajoso fazer lixo e depois tratá-lo, então só a dívida que se transforma em lixo é verdadeiramente interessante pelos benefícios que traz à economia.
Talvez por isso é que andaram por aí uns senhores chamados banqueiros, outros chamados investidores e alguns outros que não gostam que se lhes chamem especuladores, durante anos e anos, a emprestarem dinheiro a torto e a direito e, percebe-se, como sabiam que o lixo seria um bem muito rentável, não se limitavam a emprestar apenas o que lhes era pedido, antes insistiam em emprestar sempre mais e mais, do que lhes era solicitado. Se alguém pedia um, eles emprestavam três ou quatro ou mais vezes e chegavam ao ponto de emprestar ainda mais sobre o que já estava quase a transformar-se em lixo. Só assim, originando dívidas e aumentando sistematicamente o montante das ditas, chegariam ao momento em que o lixo seria inevitável e, portanto, começariam a ter lucro, criando mais empregos, produzindo mais energia, poupando mais por não precisarem de adquirirem tantas matérias-primas para produzirem mais lixo, etc, etc, etc.
Portanto, eis-nos chegados ao momento há tanto tempo aguardado. As agências de notação financeira fizeram o favor de classificarem a nossa dívida como lixo. Por isso não devemos permitir que nos seja imposta mais austeridade porque se consumimos menos, produzimos menos lixo.
Se o que lhes devemos se tornou (finalmente) lixo, resta-lhes rentabilizar o produto final. Lixo! Como se vê, um negócio sem risco.