sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A OBRA DO REI MAGNÂNIMO

JÁ A TERRA VIAJOU 300 VEZES AO LONGO DA SUA ELÍPTICA SOLAR E DEU MAIS DE 49.500 VOLTAS SOBRE SI PRÓPRIA DESDE QUE FOI LANÇADA A PRIMEIRA PEDRA A 17 DE NOVEMBRO DE 1717
promessa que D. João V, o Rei Magnânimo fizera pela descendência que a rainha Maria Ana de Áustria, viesse a dar-lhe e foi o nascimento da primeira filha, Maria Bárbara viria a ocasionar o cumprimento da promessa.
Obra de referência do chamado 'período joanino' numa época de monarquia absoluta, a obra nasce por oportunidade económica, usando o ouro do Brasil e política dando uma marca ao reinado e mudando o paradigma das artes do Reino.
Destinado à ordem dos Franciscanos, o Convento foi pensado inicialmente para 13 frades mas o projecto foi sendo sucessivamente alargado para quarenta, oitenta e finalmente uma comunidade de trezentos religiosos, ao qual foi acrescentada a estrutura de um palácio real.
Johann Francis Ludovice, ourives, arquitecto e engenheiro militar prussiano que estudara arquitectura em Florença dirige a obra até 1730 mas será o seu filho Johann Peter que a concluirá, 52 anos depois.
Para os altares da Real Basílica, capelas, áreas conventuais, portaria e refeitório, foi encomendada uma colecção de pintura religiosa do século XVIII onde avultam obras dos pintores italianos Mazucci, Giaquintto, Trevisani e Bettoni e de portugueses como Vieira Lusitano e Inácio de Oliveira Bernardes.
A estatuária da Basílica dos grandes mestres italianos Monaldi, Corsini e Rusconi, constituindo a mais significativa colecção de escultura barroca italiana fora de Itália, a qual inclui ainda os seus estudos em terracota, bem como a produção da Escola de Escultura de Mafra, aqui criada no reinado de D. José I.
Por vontade do Rei, a cerimónia da sagração da Basílica foi realizada no ano de 1730, a 22 de Outubro, data do seu 41º aniversário, que nesse ano caía a um domingo, dia destinado pelo ritual da Igreja para esse fim, embora as obras ainda estivessem bastante atrasadas. Trezentos e vinte e oito frades ingressaram então na comunidade de Mafra, vindos de diversos conventos na região mandados extinguir por Decreto Real e também do Convento de São Francisco da Arrábida.
O romance de José Saramago, "Memorial do Convento" é também a história do grande amor de Baltazar, jovem pedreiro por Blimunda mulher dotada do estranho poder de ver o interior das pessoas. Os dois conhecem um padre, Bartolomeu de Gusmão, que entrou na história como pioneiro da aviação e iniciam a construção de um aparelho voador, a Passarola que sobe em direcção ao Sol, sendo que este atrai as vontades, que estão presas dentro da Passarola. Blimunda, ao ver o interior das pessoas, recolhe as suas vontades, descritas pelo autor como nuvens abertas ou nuvens fechadas.
Bartolomeu foge para Espanha perseguido pela Inquisição que o condenara por heresia por voar o que era contrário às normas divinas. Blimunda e Baltasar escondem os materiais de manutenção da passarola e a própria fica dissimulada por uns arbustos em Montejunto. Um dia, Baltasar fica preso à passarola, enquanto fazia a sua manutenção, os cabos que a impediam de se elevar nos céus rebentaram, tendo sido levado pelos ares. A aeronave despenhou-se e Baltasar foi capturado pela Inquisição, acusado de bruxaria. No epílogo da acção, Blimunda recolhe a vontade de Baltasar enquanto este é condenado à fogueira.

Em "Memorial do Convento", as personagens são de dois grupos opostos. A aristocracia e o alto clero que representam o grupo do poder, enquanto o povo e os oprimidos, que representam o grupo do contra-poder. Os primeiros são caracterizados pela falsidade, ridículo, ostentação e indiferença pelo sofrimento humano e crueldade mal disfarçada de religiosidade. Os segundos são os heróis esquecidos pela História oficial, que ganham relevo e rebeldia através da ficção do romance.
O Palácio possui dois carrilhões mandados fabricar em Antuérpia e Liége com um total de 98 sinos, sendo os maiores existentes no mundo, cobrindo cada um deles uma amplitude de quatro oitavas (carrilhões de concerto) realizados por um dos mais respeitados fundidores de sinos, Nicolaus Levacher de Liége que deixou, em Portugal uma tradição de fundição que perdurou por mais de um século após a conclusão dos trabalhos em Mafra. O conjunto inclui o maior sistema de relógios e de cilindros de melodia automática, conhecido em ambas as torres (quatro cilindros rotativos com cavilhas e alavancas) um marco mundial quer da concepção de música automática quer da relojoaria, capazes de tocar cerca de dezasseis diferentes peças de música, em qualquer momento.
No entanto, é a sua biblioteca o maior tesouro de Mafra, chão em mármore, estantes em rococó e uma colecção de mais de 36 000 livros com encadernações em couro gravadas a ouro e prata, incluindo uma segunda edição de Os Lusíadas.  Abrange áreas tão diversas como medicina e farmácia, história, geografia e viagens, filosofia, teologia e direito canónico e civil, literatura, matemática e história natural. 
Muitos deste volumes foram encadernados na oficina local. A biblioteca de Mafra é também conhecida por acolher morcegos, que ajudam a preservar as obras.
Classificado Monumento Nacional em 1910 foi finalista da iniciativa 7 Maravilhas de Portugal em 2007.