Da outra vez foi meia hora antes de um jogo de futebol.
Desta vez escolheu a abertura dos telejornais com o fim de semana no patamar da escada.
Às vinte horas de sexta feira faz menos estardalhaço; não há jornais de economia nem há muito tempo para grandes comentários; o pessoal suspira pelo descanso, a maioria do pagode ainda não chegou a casa ou anda às compras pelos hipermercados porque no sábado e no domingo é tempo de praia para 'desamargar', ao Sol, as agruras da vida.
Depois, sai o discurso abjecto do costume.
Mais do mesmo sempre sobre os mesmos do costume.
O chefe da cambada ameaça. Lança a chantagem como arma, tenta que quem o ouve, caso seja funcionário público ou reformado, perca o apetite para o jantar, perca o sono na hora de se ir deitar.
o homem é um canalhote.
Nem perde tempo com disfarces. Já não precisa!
Reforma do Estado? Ora essa!
É preciso é cortar. A torto. A direito. Mais a torto que a direito.
Primeiro, a razia na função pública!
Vamos a isso. Horários de quarenta horas para haver equidade com o privado. É interessante mas já estamos habituados a esta conversa de que não se trabalha o suficiente num país de mandriões. Até chego a pensar que esta cambada que nos desgoverna não é portuguesa mas alemã, ou talvez holandesa, não sei se finlandesa. A cambada pela voz do seu porta voz, continua com o rolo compressor. Trinta mil estão de saída. Rua! Mas, atenção! A cambada preocupa-se em dizer que são saídas negociadas. Pois claro! No primeiro ano de mobilidade o salário é reduzido em sessenta e sete por cento e ao fim de dezoito meses, reduz-se a zero. Se não querem sair a bem, hão-de sair por exaustão, por necessidade. É assim que esta corja entende por reforma do estado.
Segundo, continuar a acabar com esses imprestáveis que são os pensionistas, os velhos que apenas algum recato tem designado por idosos ou seniores.
O que eles são?
Velhos, ainda por cima doentes que põem em perigo a sustentabilidade da segurança social.
E ainda por cima, duram. Como duram!
Cada vez há mais destes pesos. Por isso, a cambada que nos desgoverna não cuida apenas de criar condições para o seu mais rápido desaparecimento através do empobrecimento contínuo, da pobreza insustentável, até não terem nada de nada.
Ao mesmo tempo dificulta-se o direito aos apoios sociais.
Quanto menos velhos existirem melhor! É poupança!
Assim é gastança. É dinheiro deitado à rua.
A cambada que nos desgoverna nem quer saber que os velhos que vão sendo dizimados andaram décadas a descontarem para terem pensões de miséria. Não contribuíram em nada para a crise, antes pelo contrário, confiaram as parcas poupanças aos bancos que lhes davam contrapartidas miseráveis e andaram a 'jogar' abusivamente em produtos financeiros tóxicos com muito desse dinheiro que os imprestáveis dos reformados e dos pensionistas lhes davam à guarda.
Mas a cambada que nos desgoverna pretende é dinheiro a qualquer preço.
Precisa do vil metal como de sangue para se manter vampirescamente viva sugando tudo e todos. Não há aumento de impostos? Que ideia! Então o que vai ser a contribuição para a sustentabilidade? A cambada precisa. Que se lixem os velhos. Nem sequer há o cuidado de dizer quanto vai ser o estrago, desta vez. Já não interessa nada. Aplica-se a taxa e pronto. Os velhos quando receberem a pensão já nem sabem quanto recebem. Assim fica tudo baralhado e o ladrão vai amealhando.
Depois, o chefe da cambada, despediu-se. Volatilizou-se pela porta branca da sala. Ala que se faz tarde.
Hoje, foi um dos subchefes da cambada!
Este é mais fino. Mais mariola. Quarenta e oito horas depois veio dizer que estava de acordo com quase tudo. Ao fim e ao cabo o poder sabe bem. Mesmo quando se tem o poder de dizer não, é melhor estar quietinho com os pés e continuar a fazer passar o chefe da cambada pelo mau da fita e o outro subchefe por um psicopata social.
Funcionários públicos claro que sim. É preciso reduzi-los. Como? Muito simplesmente. Cortar. A torto e a direito. Mais a torto que a direito como dissera o chefe da cambada quarenta e oito horas antes. Tudo bem!
Quanto aos velhos. Alto e para o baile. O subchefe da cambada não quer mortes nem sangue. Como democrata e cristão que se preza declara que isto não aceita. É gente indefesa, em fim de vida, pois claro. Por isso, é preciso arranjar alternativas. E, se não for possível encontrá-las?
Bem, explica o subchefe da cambada, então é uma pena mas lá terá que ser. Talvez se mate mais devagarinho, com menos dor.
Mas, temos de voltar aos mercados.
Não podemos ter um segundo resgate.
Duas mentiras mais a juntar a tantas outras em que a cambada se especializou.
Porque o segundo resgate parece cada vez mais inevitável.
Porque os mercados hão-de ficar à espera de melhores dias.
E, a cambada vai continuar destruindo o país paulatinamente enquanto no palácio, o rei vai ficando cada vez mais nu...