Final de tarde. Pouca gente no Terreiro do Paço. Ainda a cidade se não recompusera dos acontecimentos das noites anteriores, em que foram presos e levados para o Aljube e até para os calabouços do Bugio, mais de noventa pessoas, entre as quais vultos Afonso Costa e António José de Almeida, vultos do partido republicano, dirigentes carbonários, operários anarquistas e alguns dissidentes progressistas do partido regenador como o Visconde de Ribeira Brava.
A ditadura imposta pelo ministério de João Franco que culminou com a suspensão das garantias cívicas da Carta Constitucional de 1907, o caso do 'ultimato inglès' e as dificuldades económicas são as causas para um clima de grande tensão social que leva o rei D. Carlos a sair de Vila Viçosa, onde passava uma semana de caçadas e lá se encontrava com o príncipe D. Luís Filipe e a raínha D. Amélia. Apesar dos avisos e contra a vontade de membros do governo e da sua segurança oficial, à sua chegada a Lisboa opta por seguir, desde o cais das colunas até ao Palácio das Necessidades num 'landau', carruagem aberta, para demonstrar que há normalidade e que a revolta está dominada.
A escolta resumia-se aos quatro batedores protocolares e um oficial a cavalo, ao lado da carruagem do rei. Quando a carruagem circula pelo lado ocidental da praça, um homem de barbas, dirige-se para o meio da rua, leva à cara a carabina que escondia sob a capa, põe o joelho esquerdo no chão e faz pontaria. Ouve-se o tiro e a bala atravessa o pescoço do Rei. Logo de seguida começa uma fuzilaria com: outros atiradores, em diversos pontos da praça, a atirarem sobre a carruagem aberta que fica crivada de balas.
O rei D, Carlos morre imediatamente. Entre os populares que fazem um magro cordão nos passeios, alguns para protestarem, muito poucos para o saudarem, é o pânico generalizado.
Com uma precisão e um sangue frio notáveis, o atirador, mais tarde identificado como Manuel Buiça, professor primário expulso do Exército, volta a disparar. O segundo tiro atravessa o ombro do rei, cujo corpo cai de costas para cima da raínha que entretanto se tentara levantar num grito de aflição. Quando surge a correr de debaixo das arcadas um segundo regicida, Alfredo Costa, empregado do comércio e destacado membro da Carbonária. Pé sobre o estribo da carruagem, ergue-se à altura dos passageiros e dispara, de novo, sobre o rei já morto.
D. Amélia, já de pé, tenta desesperadamente proteger o rei e agita um ramo de flores, gritando “Infames! Infames!” mas o segundo atirador ainda agarrado à carruagem volta-se então para o príncipe D. Luís Filipe, que se levanta e saca do revólver do bolso do sobretudo, mas é atingido no peito. A bala, de pequeno calibre, não penetra o esterno (segundo outros relatos, atravessa-lhe um pulmão, mas não era uma ferida mortal mas, ao levantar-se o príncipe fica na linha de tiro da carabina e de uma bala de grosso calibre que o atinge na face esquerda, saindo pela nuca. O infante D. Manuel que seguia ao lado vê o irmão tombado e tenta, em vão, estancar-lhe o sangue com um lenço.
A fuzilaria continua. Dª Amélia permanece de pé, gritando por ajuda. Buíça volta a fazer pontaria (sobre o infante? sobre a rainha?) mas é impedido pela intervenção de Henrique da Silva Valente, soldado de Infantaria 12, que passava no local, e que se lança sobre ele de mãos nuas. Na breve luta que se segue o soldado é atingido numa perna, mas a sua intervenção é providencial.
Tendo voltado o seu cavalo, o oficial carrega primeiro sobre Costa, que ferido pelo príncipe é atingido por um golpe de sabre e preso pela polícia, mas já moribundo e de seguida dirige-se a Buíça que mesmo no chão ainda consegue atingir o oficial que mesmo assim o imobiliza com uma estocada.
Ainda vivo Buiça, no momento que é entregue à polícia, o zelo excessivo de um dos polícias fá-lo disparar a arma e abater o assassino, o que dificultará as posteriores investigações sobre o atentado.
A rainha D. Maria Pia, mãe de D. Carlos foi chamada ao Arsenal, onde encontrando-se com D. Amélia lhe diz chorosa e desolada: “Mataram-me o meu filho.”, ao que esta respondeu:
“E o meu também.”
“E o meu também.”