Warren Buffett é o terceiro homem mais rico do mundo, segundo a revista Forbes. Num artigo publicado, na semana passada, no New York Times intitulado “Parem de mimar os ricos” escreveu: "Enquanto os pobres e a classe média lutam para fazer face às suas despesas e desesperam em sacrifícios cumprirem compromissos e obrigações fiscais, nós os ricos, continuamos a poder desfrutar de extraordinárias isenções e benefícios fiscais".
O processo desencadeado pelo artigo de Warren Buffet torna incontornável a necessidade de ser invertido este vergonhoso deslizar para futuro de empobrecimento e de desesperança dos povos, até agora, hipocritamente negado por governos fracos sem estadistas, políticos corruptos, sem ética nem moral, economistas e outros fervorosos adeptos das doutrinas neoliberais e até mesmo aqueles que (ingenuamente) julgam que a defesa do modelo social que trouxe prosperidade e segurança está na abjuração inevitável desse mesmo modelo como se fosse solução possível negociar o seu próprio desmantelamento.
É esclarecedor e não deixa de ser irónico que sejam os poderosos detentores de grandes fortunas virem a terreiro pedir aumentos dos impostos que os obriguem a contribuir e a participar na recuperação dos seus países, perante a tibieza de políticos assarapantados e incompetentes.
É esclarecedor e não deixa de ser hipócrita que sejam eles, os poderosos detentores de grandes fortunas que, ultrapassando pela esquerda os governos dos seus países, se mostrem temerosos de que os sinais inequívocos de agitação indignada e de protesto social se transformem num ‘tsunami’ de revoltas arrasadoras e imparáveis que acabem por destruir as próprias fortalezas que lhes têm servido de escudo.
É esclarecedor e não deixa de ser patético que no país mais assimétrico da zona euro, o governo tenha apressadamente de vir a terreiro defender que os mais ricos e os mais poderosos devem ser mais efectivos no ‘pagamento da crise’ e se realize uma reunião extraordinária do conselho de ministros para debater a ideia, idealizar o formato e formatar a lei que permita a realização do evento.
É esclarecedor e não deixa de ser irónico, hipócrita e patético que o homem mais rico de Portugal e duo centésimo décimo segundo mais rico do mundo, segundo a mesma Forbes, o senhor Américo Amorim, quando instado a comentar as posições dos seus congéneres americanos e europeus, não se comoveu. Este senhor, do alto dos seus (quase) quatro mil milhões de euros de fortuna pessoal, disse simplesmente que não é rico porque trabalha e não se conhece ninguém que tenha enriquecido a trabalhar.
Aguardo, ansiosamente, o que terão a dizer sobre isto, os outros. Pelo menos os restantes nove mais ricos de Portugal que, em plena crise, aumentaram as suas fortunas em dezassete vírgula oito por cento…