segunda-feira, 7 de outubro de 2013
"O POLVO" E A OPERAÇÃO IPO
O caso IPO/Duarte Lima, em que Isaltino poderia ter sido peça fundamental, nem foi sequer abordado durante o Inquérito Parlamentar sobre o BPN , inquérito a que o PSD se opôs então com unhas e dentes, como é sabido.
A táctica escolhida pelo 'polvo laranja' foi desencadear um inquérito parlamentar para averiguar se Sócrates estava ou não a «asfixiar» comunicação social!
Ruído, apenas, para abafar o caso BPN e desviar as atenções.Mas é interessante examinar como é que o negócio IPO/Lima foi por água abaixo.
Enquanto Lima filho, Raposo e Cia. criavam um fundo com dezenas de milhões, amigavelmente cedidos pelo BPN de Oliveira e Costa, Isaltino pressionava o governo para deslocar o IPO para uns terrenos em Barcarena, concelho de Oeiras.
Isaltino comprometia-se a comprar os terrenos com dinheiro da autarquia e a «cedê-los generosamente» ao Estado para lá construir o IPO.
Fazia muito jeito que fosse o município de Oeiras a comprar os terrenos e não o ministério da Saúde, porque assim o preço podia s ajustado entre os amigos vendedores e compradores, quiçá com umas comissões a transferir para a Suíça.
Duarte Lima tinha sido vogal da comissão de ética (!) do IPO entre 2002 e 2005, estava bem dentro de todos os assuntos e tinha ótimas relações para propiciar o negócio.
Além disso, construiu a imagem de homem que venceu o cancro, história lacrimosa com que apagava misérias anteriores. O filho e o companheiro do PSD Vítor Raposo eram os escolhidos para dar o nome, pois ao Lima pai não convinha que o seu nome figurasse como interessado no negócio.
Em Junho de 2007 Isaltino dizia ainda que as negociações para a compra dos terrenos em causa estavam "em fase de conclusão" (só não disse nunca foi a quem os ia comprar, claro) e pressionava o ministro da Saúde: "Se se der uma mudança de opinião do governo, o cancelamento do projecto não será da responsabilidade do município de Oeiras."
Como assim, "mudança de opinião do governo"?
Na verdade, Correia de Campos apenas dissera à Lusa que o governo encarava a transferência do IPO para fora da Praça de Espanha e que estava a procurar um terreno, em Lisboa ou fora da cidade, para esse efeito. Nenhuma decisão tinha sido tomada, nem nunca o seria antes das eleições para a Câmara de Lisboa, que iam realizar-se pouco depois.
Porém, a Câmara de Lisboa, cuja presidência foi conquistada por António Costa, anunciou que ia disponibilizar um terreno municipal para a construção do novo IPO no Parque da Bela Vista Sul, em Chelas, Lisboa e assim se lixou o projecto Lima-Isaltino. Com Santana à frente da autarquia e um ministro da Saúde do PSD teria tudo sido muito diferente. E Duarte Lima talvez tivesse uma estátua no Parque dos Poetas do amigo Isaltino.
Sabemos como, alguns meses depois deste desfecho, o ministro Correia de Campos foi atacado por Cavaco no discurso presidencial de Ano Novo, em 1 de Janeiro de 2008, o mesmo que hoje diz à comunicação social que não se pronuncia sobre monistros que são da responsabilidade do primeiro ministro. Que Cavaco queria a pele de Correia de Campos, foi bem visível. Ele foi a causa do fracasso do projeto do IPO/Oeiras e dos prejuízos causados ao clan do seu amigo Duarte Lima e ao polvo laranja.
É bem possível que essa tenha sido a razão.