Há
algo de estranho neste éter pejado de deuses, desde que o homem
é homem.
Huitzilopochtli,
Tezcatlipoca e Xipe-Totec, a trindade Azteca adorada por supostamente proteger
a vida dos seus súbditos está zangada?
Osíris,
Ísis e Hórus, há mais de três milénios presentes, viraram-nos as costas?
O deus babilónico Marduk ou os fenícios Baal e Melcart que geriam a vida e a morte nas duas grandes cidades de Sído e Tiro ou será o assírio Assur que resolverou regressar para punir os povos.
Ou
talvez o gigante taoista Panghu, de onde saímos, parasitas de um
corpo há mais de cinco mil anos, que se cansou de ser hospedeiro de vermes peçonhentos, como nós?
Ou foram Tzansmi e Tzanagui os deuses nipónicos da criação que expulsaram
Amaterasu, deus da claridade e da razão, condenando o mundo às trevas?
Será
Tuatha Dé Danann, a deusa Celta tão alegre que só quer dançar
"sapateado" no grupo dos seus dançarinos se desencantou e nos corre à biqueirada?
Talvez a tríade galesa, Trioedd, Ynys e Prydein, de fama tão imaculada na protecção das
verdejantes ilhas que se cansou.
Estava a esquecer-me dos nórdicos perante os seus poderosos Thor (deus do
trovão), Odin (deus da guerra) e Hel (deusa dos gelos), Njord (protector dos
viajantes e navegadores) ou a deusa de Niflheim, a figura de feições
sombrias viva da cintura para cima e morta da cintura para baixo que guarda a
terra dos mortos. Serão estes responsáveis pelo caos?
Uma guerra qualquer no Olimpo de que nós insignificantes mortais só percebemos pelos sinais de certa violência doméstica que se ouve cá em baixo. Zeus (o grande senhor do Universo), Poseidon (dos mares e das águas), Ares (filho de Zeus e deus da guerra), Apolo (deus do Sol e da beleza) ou Hermes (o mensageiro) que não se entendem?
Ou serão Júpiter e Marte, numa inevitável discussão que Minerva (deusa da inteligência e sabedoria) e Juno (rainha do céu, esposa de Júpiter) não conseguem aplacar?
Ou
será que Brahma o deus criador do cosmos e todos os seres vivos, primeiro da
Trindade Hindu está de candeias às avessas com os seus dois pares na
trindade, Vishnu o deus da preservação e Shiva, o oposto deus da morte e da
destruição e Shiva está a ganhar?
Talvez esteja a misturar demasiado as coisas porque de há dois mil anos a esta parte a alguém se lembrou que afinal muitos deuses geram confusão e seria preferível dar lugar a um único Deus, Senhor dos Céus e da Terra; já havia um, Jeová deus hebreu que ganhara fana de vingativo e castigador, pois então havia que mudar e foi um achado dar-lhe uma face de pai protector, benevolente e redentor, o que parece ter surtido efeito, pois ganhou rapidamente adeptos e tanto que cerca de quinhentos e setenta anos depois, descobrisse Alá, que para árabes e muitos outros povos orientais e africanos foi sendo uma espécie de "irmão" oriental do Deus dos ocidentes.
E aqui chegados,
defrontamo-nos com uma realidade "nascida" no mesmo
sítio e com tanta coisa parecida que haverá quem julgue que tudo poderia ficar
mais harmonioso.
Pura ilusão!
Mas,
afinal, no meio de todas estas guerras um pouco por todo o lado, pelo meio de
todos os desastres climáticos e catástrofes que aniquilam os mais fracos entre
nós, ao empurrão de pandemias, epidemias, pestes e outras calamidades que matam
milhões e milhões todos os anos, por entre muitas e muitas outras coisas que
acontecem entre nós, cada vez com mais frequência e com mais violência.
Pobres
terráqueos abandonados à (pouca) sorte de seres simplesmente mortais, apenas
"topos de gama" de uma cadeia com muitos milhares de milhões de anos
de espécies de onde viemos e agora nos julgamos arrogantemente mais evoluídos,
mais inteligentes, mais poderosos, e mais tão tudo que somos capazes de
destruir os outros todos que nos acompanham e "at the end" de nos
destruirmos a nós próprios.
O
que é manifestamente frustrante!