quinta-feira, 7 de abril de 2011

Porque não se fala da Islândia?

É altura de se falar da Islândia. Na forma como este país deu a volta à bancarrota e porque não interessa a certa gente que se fale dele. Não é impunemente que não se fala da Islândia (o primeiro país a ir à bancarrota com a crise financeira) e na forma como este pequeno país perdido no meio do mar, deu a volta à crise. Ao poder económico mundial, e especialmente o Europeu, tão proteccionista do sector bancário, não interessa dar notícias de quem lhes bateu o pé e não alinhou nas imposições usuárias que o FMI lhe impunha para a ajudar.

Ficheiro:Coat of arms of Iceland.svg
Em 2007 a Islândia entrou na bancarrota por causa do seu endividamento excessivo e pela falência do seu maior Banco que, como todos os outros, se afogou num oceano de crédito mal parado. A Islândia é uma ilha isolada com cerca de 320 mil habitantes, e que durante muitos anos viveu acima das suas possibilidades graças a estas "macaquices" bancárias que a guindaram falaciosamente ao 13º lugar do ranking dos países com melhor nível de vida (nessa altura em que Portugal detinha o 40º lugar). País novo, ainda não integrado na UE, independente desde 1944, foi desde então governado pelo Partido Progressista (PP), que se perpetuou no Poder até o levar à miséria.
Desacreditado pelas consequências da corrupção com que durante muitos anos conviveu, o PP tratou de correr ao FMI em busca de ajuda. Claro que a usura deste organismo não teve comiseração, e a tal "ajuda" ir-se-ia traduzir em empréstimos a juros elevadíssimos acima dos 5,5%, que se traduzia num empenhamento das famílias islandesas por 30 anos. Parte desta ajuda seria para "tapar" o buraco do principal Banco islandês.
Perante tal situação, o país mexeu-se, apareceram movimentos cívicos com uma ideia base muito simples: o custo das falências bancárias não deveria ser pago pelos cidadãos, mas sim pelos accionistas e seus credores e por todos os que tinham assumido os tais investimentos financeiros de risco.
O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um referendo, tendo os islandeses, com uma maioria de 93%, recusado a assumir os custos da má gestão bancária e a pactuar com as imposições avaras do FMI. Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a realização de novas eleições.
Foi assim que em 25 de Abril de 2009, a Islândia foi a eleições e recusou votar em partidos que albergassem a corrupta classe política que os tinha levado àquele estado de penúria. Um partido renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições, e conjuntamente com o Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação que lhes garantiu 44 dos 63 deputados da Assembleia). O partido do poder (PP) perdeu em toda a linha.
Foi assim que se iniciaram as reformas de fundo no país amparadas numa reforma fiscal severa. As negociações com o FMI foram duras, mas os islandeses não cederam, e conseguiram os tais empréstimos que necessitavam a um juro máximo de 3,0% a pagar nos tais 30 anos. O FMI não tugiu nem mugiu. Sabia que teria de ser assim, ou então a Islândia seguiria sozinha e, atendendo às suas características, poderia transformar-se num exemplo mundial perigoso demais, de como sair da crise sem estender a mão à Banca.

Graças a esta política de não pactuar com os interesses do neoliberalismo instalado e de não pactuar com o formato do actual capitalismo selvagem, os islandeses fazem sacrifícios, mas sabem porque os fazem e onde vai parar o resultado dos seus sacrifícios e saíu da recessão já no 3º Trimestre de 2010.
O Governo islandês (chefiado por uma senhora de 66 anos) prossegue a sua caminhada, tendo conseguido sair da bancarrota e preparando-se para dias melhores. 
Os cidadãos estão com o Governo porque este não lhes mentiu, cumpriu com o que o referendo dos 93% lhe tinha ordenado, e os islandeses hoje sabem que não estão a sustentar corruptos nem a cobrir as fraudes que lhes proporcionaram enormes fortunas. Sabem também que deram uma lição à banca europeia e mundial, pagando-lhes o juro justo pelo que pediram e não alinhando em mais especulação. Sabem ainda que o Governo está a trabalhar para eles, cidadãos, e aquilo que é sector público necessário à manutenção de uma assistência e segurança social básica, não foi tocado.
Os islandeses sabem para onde vai cada cêntimo dos seus impostos, porque o actual Governo Islandês, não faz jogadas nas costas dos seus cidadãos.