O montante do incumprimento dos empréstimos para aquisição de habitação atingiu um novo recorde no início deste ano, de acordo com os dados divulgados pelo Banco de Portugal.
O crédito de cobrança duvidosa atingiu 2,4 mil milhões de euros, o que representa um agravamento de mais de 30 milhões de euros relativamente a Dezembro e mais de 170 milhões de euros quando comparado com Janeiro de 2013.
Todos nos lembramos do que se dizia ainda há bem pouco tempo a respeito do não pagamento das prestações da casa: as famílias podiam estar em situação difícil mas a prestação da casa era a última coisa que deixavam por cumprir.
Pois, segundo os dados disponíveis, a sangria nos salários e o desemprego muitas vezes de ambos os membros no casal, bem como o ataque que o governo tem feito às pensões, muitas vezes o sustentáculo de toda a família, estão a produzir resultados.
Em termos globais, o malparado atingiu os 17 mil milhões de euros, em Janeiro que corresponde a 7,6% do valor total de crédito concedido pela banca, a famílias e a empresas, valor este nunca atingido anteriormente e que, a continuar a crescer como é previsível que aconteça, não permitirá que a banca possa continuar a financiar a economia nos mesmos patamares actuais, ainda assim reduzidos, e naturalmente retrairá ainda mais o nível da concessão do crédito, ou seja, o investimento continuará sem recuperação.
Às famílias, se o crédito à habitação mal parado, aumentou, como já foi dito acima, na vertente de crédito ao consumo passou a ter um peso de 11,8% e ainda mais acentuadamente no crédito para outros fins, onde se inclui saúde, educação, empresários por conta própria, por exemplo, o nível de incumprimento já vai nos 13,2%.
No caso das empresas, o malparado já tinha disparado em 2012 e situa-se agora acima dos 13%, posicionamento que se justifica pela redução de financiamento e as grandes dificuldades das empresas em manterem as tesourarias com a liquidez necessária para realizarem a amortização das suas dívidas junto da banca.
Apesar de continuar a haver recurso a programas de recuperação para empresas e famílias que têm recorrido a esses expedientes de renegociação de contratos de crédito, o que é facto é que em muitos casos nem isso tem obstado à sua insolvência ou à impossibilidade de cumprirem prestações mais suaves.
Já se perspectiva que é necessário tomar novas medidas para facilitar às famílias e às empresas o pagamento dos seus compromissos e é ao governo que cabe legislar sobre a matéria e ao Banco de Portugal que cumpre fiscalização enquanto entidade reguladora da actividade , dá vontade de perguntar a este mesmo governo o que é que o impede de tentar o mesmo junto dos credores do país? Ou não será a sua teimosia em manter o objectivo de pagar uma dívida incomportável que tem levado famílias e empresas a uma situação desesperada?