quarta-feira, 30 de abril de 2014

OS ESTAGIÁRIOS SÓ FAZEM MERDA


Naquela manhã, ao acordar, dirigi-me à cozinha para tomar o café na expectativa de que o meu marido se tivesse lembrado de que fazia 35 anos. Enquanto descia a escada em caracol que liga o andar dos quartos ao piso do rés-do-chão, imaginava a mesa posta com umas flores e um cartão de aniversário junto a uma embalagem que contivesse a prenda.

Mas, nada! O meu marido levantara-se muito cedo e, certamente já saíra.
Aliás, espreitei pela janela da cozinha de onde se avistava a garagem e lá estava a porta levantada e o sítio onde devia estar o carro dele, vazio.
Apesar de o meu mau humor matinal ter piorado continuei a pensar, enquanto aquecia o chá branco com folhas de jasmim e fazia uma torrada, que as crianças iriam manifestar-se ruidosamente quando viessem tomar o leite e os flocos.
Afinal, nem a Sara nem o Leonardo disseram fosse o que fosse e até tive de ser eu a dizer os bons dias para levar como resposta uns monossílabos ensonados e tão mal humorados quanto eu.

Saí bastante desanimada. O meu marido nem sequer deixou um bilhete já que tinha saído antes de eu ter acordado. Os meus filhos não se lembraram do meu aniversário? Felizmente, quando cheguei ao escritório e o meu estagiário apareceu sorridente com uma rosa vermelha estendida e me desejou: "Feliz aniversário, dra", fiquei um pouco ,melhor e até consegui sorrir pela primeira vez. Até que enfim alguém se tinha lembrado.

Trabalhei até ao meio dia sempre na expectativa de que o telefone tocasse e do outro lado ouvisse a voz do meu marido. Nada! Foi então que o Luís me bateu à porta do gabinete. Ainda não tinha apresentado o Luís. Tem 25 anos. É o meu estagiário, um recém licenciado em Direito com 19 valores. Um crânio. Mas, sobretudo, um corpo! Alto, aspecto sólido, de ombros largos e musculados, em mangas de camisa percebe-se que tem muito ginásio. Sempre de fato completo, normalmente cinzento e gravata de riscas. Sempre riscas. As cores podem ser várias mas sempre riscas. Camisa sempre branca colarinhos impecáveis.

"Sabe, dra...está um dia primaveril e se não tem nada combinado, gostaria de almoçar hoje consigo. Só almoçamos juntos no dia que entrei para aqui e já cá estou há mais de seis meses. Como faz anos, pago eu! Que acha?

Arregalei os olhos. Surpresa, hem!? Nem me passou pela cabeça recusar. Afinal estava decidida a virar aquele dia do avesso já que a minha família nem sequer se lembrara de um carinho. Fomos a um lugar bastante agradável, divertimo-nos muito, bebemos melhor e no caminho de regresso, alegando que se tinha esquecido do telemóvel no apartamento, perguntou se não me importaria de passarmos por lá. Claro que não, respondi-lhe com um sorriso. A companhia dele estava a agradar-me sobremaneira.

Parámos num bloco de apartamentos num condomínio suburbano da periferia. Eu, aprestava-me para ficar à espera no carro enquanto ele ia buscar o telemóvel mas ele inclinou-se para mim e apanhando-me de surpresa, deu-me um beijo junto à orelha que me produziu um arrepio comprometedor enquanto dizia quase num segredo: "Não me leve a mal dra, mas podíamos subir e bebia um digestivo.

Fomos então ao apartamento dele, um T0 tipo estúdio num nono andar e de onde se tinha uma vista magnífica sobre o grande parque e o lago na cidade.

Bebemos dois conhaques e um café bem forte e eu sentia já a cabeça demasiado tonta e uma estranha leveza. Comecei a achar que talvez não tivesse sido boa ideia...quando ele volta com o telemóvel na mão e me diz que voltava já mas enquanto isso sugeria que eu me pusesse bem à vontade. Fiz-lhe um sinal com a mão que estava tudo bem enquanto ele desaparecia atrás de uma estante de livros e ouvi uma porta bater. Pensei que teria tido alguma necessidade.

Decorridos mais ou menos cinco minutos, oiço de novo a porta a abrir e ele aparece detrás da estante com um enorme bolo de aniversário, seguido pelo meu marido, os meus filhos, a minha irmã, os meus dois colegas de escritório e a secretária da recepção, todos a cantar, Parabéns a você!!!

E, ali estava eu, meia despida, apenas de soutien e calcinha preta, meias pretas e cinto liga, recostada no sofá numa atitude muito provocante. Tinha-me posto à vontade...

É POR ISSO QUE EU DIGO : "OS ESTAGIÁRIOS SÓ FAZEM MERDA!..."

domingo, 13 de abril de 2014

O PAÍS ESTÁ MELHOR; NÓS É QUE SOMOS PIEGAS...

O governo está num famoso processo de branqueamento das políticas desastrosas que têm tornado o país numa espécie de 'estado de guerra'. Mas, para o senhor primeiro ministro e restantes membros do governo e apoiantes da maioria, o país está melhor. Nós é que somos os piegas...






Alguns aspectos reveladores da política que tem sido seguida nestes três anos e que o governo, decerto por esquecimento, não tem revelado. Pode não achar que serão os mais importantes mas o problema reside simplesmente que por detrás dos números estão pessoas, famílias inteiras lançadas na pobreza. Todos os dias somos confrontados com os números da fome que aumenta. Ainda agora, durante o período de férias da Páscoa, 369 escolas mantiveram as cantinas abertas para fornecerem refeições gratuitas aos seus alunos carenciados. E são milhares os que têm na cantina escolar a única refeição digna desse nome durante o dia. Sem outros comentários piegas.

- Mais longa recessão económica, de sempre (3 anos consecutivos) 
- Maior queda do PIB desde 1974 (3,6% em 2012, contra 5,1% em 1975; o PIB em 2013 está ao nível de 2002)
- Maior queda da procura interna desde 1973 (6,6% em 2012)
- Maior queda do consumo privado desde  1975 (5,4% em 2012)
- Maior queda do investimento público e privado, desde 1975 (15,8% do PIB em 2012)

- Maior dívida pública desde 1972 (129% do PIB em 2013; continua a subir)
- Maior crescimento da dívida pública em 2 anos consecutivos (18% em  2012/2013)
- Maior dívida privada desde 1995 (254,6% do PIB em 2013)
- Maior número de falências/insolvências desde 2003 (3.841 só no 4º trimestre 2013)

- Maior queda nas remunerações, de sempre (7,3% em 2013)
- Maior aumento de impostos sobre o trabalho (32% em 2013)

- Maior número de empresas com crédito em incumprimento, de sempre (máximo histórico: 30,8% em Agosto de 2013)
- Maior número de famílias com crédito em incumprimento, de sempre (máximo histórico: 15,7% em Fevereiro de 2014)

- Maior número de casais com ambos os cônjuges desempregados, de sempre

- Maior número de emigrantes, desde sempre.(121.418 em 2012; superior em cerca de 10.300 ao então recorde do ano de 1966)
- Maior número de desempregados, de sempre. (875.893 em 2013)
- Maior número de pessoas que dificilmente conseguirão um novo emprego (276.800 em 2013)
- Maior taxa de desemprego jovem, de sempre (37,7% em 2013) 
- Maior taxa de desemprego de longa duração, de sempre (51,9% em 2013)
- Menor taxa de emprego, desde 1983 (50,4% em 2013)
- Maior destruição de postos de trabalho num só ano, de sempre (150.000 em 2012)

- Menor número de nascimentos, de sempre (pela 1ª vez desde 1960, abaixo dos 90.000)

NOTA: os números relativos a cada item estão no site Pordata e têm como início, 1960.
Quando se escreve que determinado número é o mais elevado ou o mais baixo de sempre refere-se até 1960, há precisamente 54 anos!

O NOSSO LIXO


Passámos a semana entretidos com as 'palhaçadas', com todo o respeito pelos palhaços, do senhor secretário de estado da administração pública que foi até ao parlamento falar latim e mal, sem que tenha feito aquilo que alguém com 'coluna vertebral' devia ter feito, a seu tempo: DEMITIR-SE!
Mas, sobre estas coisas de 'colunas vertebrais' já nos habituámos a não ver neste e em outros governos, por isso apenas registamos mais um vómito pelo cheiro nauseabundo que o carácter deste senhor revela!

Mas, a semana não havia de terminar sem mais uma boa dose do melhor lixo que temos.
O senhor presidente da comissão europeia veio com mais seis 'compagnons de route' a uma conferência apadrinhada pelo senhor presidente da república e que sob o título de Portugal, rumo ao crescimento e ao emprego se tratou, afinal, da mais indecorosa campanha do senhor presidente da comissão europeia a putativo pré-candidato a presidente da república ao mesmo tempo que o senhor primeiro ministro lá foi igualmente dizer no que a crescimento económico diz respeito, aquilo que andou durante estes anos todos que leva à frente do governo, a dizer ao contrário. O que vale é que já nem se pode ligar a alguém que diz constantemente uma coisa e a sua contrária como verdades absolutas. O homem nem sequer é mentiroso porque se fosse mentiroso até poderia ser inteligente e tentar disfarçar as contradições que constantemente profere. O homem é mesmo muito pouco inteligente e só esperteza saloia pode já não ser suficiente. Quanto aos outros dois. nada de novo. O senhor muito cínico acabou a lavrar elogios ao senhor 'cherne' e este deixou rasgados elogios ao senhor 'chico' esperto. Um lixo produzido em família mas que acabou por sair para a rua pelas portas e janelas da fundação Gulbenkian. 

Saibam que temos no governo um pinóquio! 
O secretário de estado que serviu no parlamento de guarda-costas ao outro ( deve ser por causa dos problemas de coluna ) intitulou-se 'pinóquio' para dizer que não estava a mentir porque o seu nariz não crescia, isto a propósito dos dinheiros da ADSE não serem usados para outros fins que não aqueles para que estão destinados. Não sei se o senhor secretário de estado do orçamento pretendeu ter graça mas o lixo, obviamente, está no facto de o governo confirmando que a ADSE já se sustenta a si mesma, ainda querer aumentar mais um ponto percentual a respectiva taxa. E, depois vir dizer que para 2015 já não será efectuado o aumento programado. 2015? mas, esta gente anda a tentar baralhar quem? 
Isto sim é lixo!

Nesta conjuntura, onde não faltam motivos para apertarmos os narizes, só falta o mau cheiro que o senhor primeiro ministro irradia cada vez que abre a boca para falar do salário mínimo nacional! É que o que devia dizer imediatamente era: de quanto é o aumento e a partir de quando. Num dos raros pontos em que existe o maior consenso nacional e em que os parceiros sociais estão de acordo, anda o senhor primeiro ministro com truques e trocadilhos enquanto mais de 300.000 trabalhadores (e em crescendo) ganham 485,00 euros mensais ilíquidos. Uma vergonha!

A Fitch embora hesitante, quer tirar-nos do lixo! Os nossos governantes não deixam! 

sábado, 12 de abril de 2014

OS VÓMITOS


Esta "troika" nacional resolveu produzir, mascarado de conferência, um branqueamento da sua política que provocou uma catástrofe social sem precedentes. 

Deu-lhe um título: "Portugal rumo ao crescimento e ao emprego".

Abriu com o presidente da comissão europeia a tecer rasgados elogios à tenacidade e à firmeza do primeiro ministro e a afirmar que apesar de muito elevada a dívida é pagável caso o governo continue com as reformas.

Continuou com o presidente da república a afirmar-se testemunha do trabalho do presidente da comissão europeia em prol da defesa e da protecção de Portugal e dos portugueses.

E, continuou com o primeiro ministro a afirmar que Portugal não pode basear o crescimento e o desenvolvimento em salários baixos e num desemprego estrutural demasiado elevado.

Com mais 8 comissários europeus, mais 6 ministros e mais uns quantos secretários de estado na sala, para além de outros convidados, não se sabe ao certo o que leva esta gente a continuar a apresentar ao país, porque é disso que se trata e é isso que pretendem, aquilo que tem sido precisamente o contrário do que têm afirmado não haver alternativa.

Até aqui, as divagações destes senhores produziam em mim uma revolta imensa.
Agora, para além da revolta, fico com vómitos!
Estes senhores metem-me nojo!

quarta-feira, 2 de abril de 2014

TRAIÇÕES DA MEMÓRIA I - FALTAM 24 DIAS

1 DE ABRIL DE 1974

Segunda-feira. Um dia normal de trabalho. 
Depois do tal fim de semana do jogo que o Sporting perdeu contra o Benfica por 5 a 3, para o campeonato em Alvalade e que contou com a presença de Marcelo Caetano e do Ministro da Educação, Veiga Simão. 
Foi a última aparição pública do Chefe do Governo até ao 25 de Abril. 
O Sporting viria a ser campeão, no último domingo de Maio.
No final dessa semana a 6, ainda o Festival Eurovisão da Canção, em Brighton, Inglaterra. 
Portugal com a canção que acabaria por ficar na História. 
'E DEPOIS DO ADEUS'.
Poema de José Niza e música de José Calvário. Intérprete: Paulo de Carvalho.

Segunda feira. Um dia normal de trabalho.
Era operador no Centro Mecanográfico da Câmara Municipal de Lisboa. 
Rés do chão esquerdo e parte do primeiro andar do 46 da rua Alexandre Herculano, na esquina com a Castilho e que albergava, também, a Direcção dos Serviços de Urbanização e a Central de Trânsito, 'Gertrude', o equipamento electrónico que coordenava toda a sinalética luminosa da cidade.
Em Outubro de 73, acabara de cumprir 42 meses de serviço militar. 
Em 18 de Novembro festejara os meus 25 anos e no dia seguinte entrara, pela primeira vez, no edifício que seria o meu local de trabalho durante quase onze anos.
Mas, na altura, apenas queria muito este primeiro emprego. 
Procurava um apartamento para morar com a família.
Já tinha um casamento feliz, de 4 anos. 
E o Ricardo. O nosso primeiro filho, de 3 anos.
Tempos bem diferentes dos de hoje.
  
Havia uma certa tensão política que a 'primavera marcelista' já não disfarçava.
A revolta das Caldas do 16 de Março e a prisão do capitão Monge e de outros oficiais ainda estava quente na opinião pública; os focos de instabilidade nas forças armadas eram já evidentes com o manifesto do Movimento dos Capitães; as notícias que viajavam das Colónias; o livro do general Spínola - Portugal e o Futuro; os debates, nos últimos tempos cada vez mais acesos, nas intervenções dos deputados da designada ala liberal, Francisco Sá Carneiro, Miller Guerra, Magalhães Mota e Pinto Balsemão, fundador e primeiro director do semanário de referência Expresso para a oposição; ainda na comunicação social, os vespertinos Diário de Lisboa da família Ruella Ramos e o República de Raul Rego, desde sempre ligado à oposição republicana e democrática e que viria a ser co-fundador do Partido Socialista.

Nos locais de trabalho, nos cafés, mesmo nos transportes públicos falava-se em segredo, à 'boca pequena'; mas nos organismos do Estado, o cuidado era redobrado. Nunca se sabia quem estava ao nosso lado a escutar conversas ou até mesmo a participar nelas. A PIDE que passara a DGS sem deixar de ser polícia política; como a censura passara a Exame Prévio sem deixar de ter lápis azul e coronéis; e a União Nacional que passara a Acção Nacional popular sem deixar de ser partido único, eram os bastiões de um regime que andava de 'orelha arrebitada' porque era  cada vez mais claro que estaria por um fio...

Faltavam 24 dias.
Tempos bem diferentes dos de hoje.