segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

HÁ 'CHARLIES HEBDOS' POR TODO O LADO

Contas ainda por fazer mas, com mais umas dezenas ou menos umas dezenas, cerca de um milhão e meio de pessoas em Paris, entre as praças da República e da Nação, um percurso de três quilómetros que se encheu num protesto contra os ataques terroristas da semana. Estima-se que em toda a França terão sido quatro milhões.


Na passagem do ano, em França, foram incendiados 940 automóveis.As autoridades rejubilaram. Afinal, no fim do ano anterior, o número de viaturas vanbdalizaas e incendiadas tinha ultrapassado as mil e duzentas. Não se trata de jihadistas nem de vidas humanas perdidas mas de centenas de jovens franceses que não encontrarem outra forma de se manifestar contra aquilo que o mundo ocidental tem para o seu futuro. Muito pouco ou nada! Quantas notícias apareceram na comunicação social sobre este assunto? Quantas pessoas saíram à rua, em capitais europeias, para repudiar este acontecimento? 

No dia 3 de Janeiro, em Baga, uma cidade do nordeste da Nigéria, o grupo extremista Boko Haram, islâmico, matou dezenas de milhares de pessoas na sua maioria mulheres, crianças e velhos, durante três dias. Quantos jornais e televisões deram enfoque a este massacre? Quantas pessoas saíram à rua, em capitais europeias, para repudiar este acontecimento?.

Já em Novembro, bombistas suicidas em Kano, na Nigéria, tinham feito 48 mortos numa estação de camionagem. e na, passada sexta feira duas crianças-bomba fizeram-se explodir em mercados ao ar livre, em locais diferentes. Num dos casos, a explosão fez 2 mortos e 46 feridos. No outro, foram 20, os mortos enquanto 18 pessoas eram gravemente atingidas.  Quantos jornais e televisões deram enfoque a este massacre? Quantas pessoas saíram à rua, em capitais europeias, para repudiar este acontecimento?

Os jornalistas ocidentais, reféns do Estado Islâmico que foram espancados e torturados antes de serem decapitados em frente a uma câmara são a crueza e violência extremas e no entanto quantas pessoas saíram à rua para repudiar estes acontecimentos?

Todos os dias há 'charlies hebdos' em qualquer parte do mundo. 
Mais uma vez, quando sentimos que o perigo já ultrapassou a soleira da nossa porta e o terror está instalado em casa, é que acordamos no sobressalto do medo, na denúncia do aviltamento, na revolta da indignidade. Mas, não é juntando um milhão de pessoas em Paris, Londres, Madrid, Berlin, Roma ou noutra capital europeia que se elimina a barbárie global e os lapsos das nossas consciências, quanto às chacinas perpetradas a outros povos em outros tantos lugares, só porque são africanos ou asiáticos e se encontram noutros continentes, noutros países onde a vida humana possa ser menos valorada por nós..

A luta tem de ser diária, na defesa pela vida e pela liberdade de expressão sob qualquer forma, porque são esses os valores em que acreditamos e não podemos deixar que os eliminem, seja em que parte do planeta for em que uma simples tentativa ocorra.

Só assim, seremos todos CHARLIE HEBDO.