segunda-feira, 2 de agosto de 2021

PARVOEIRAS E MAIS QUALQUER COISA

 

Acordei muito cedo, a ouvir a chuva a bater, com uma desavergonhada insistência na claraboia do quarto e pensei (o que é raro) que deve ser conspiração de deuses para nos tramarem selectivamente, agora uns, logo outros, amanhã todos.
Assim vamos levando, aqui e ali, com tempestades extremas, chuvadas, enxurradas e inundações catastróficas, abalos e "tsunamis", incêndios infernais, ventos e tornados devastadores, tudo ao desbarato, sem pés nem cabeça, a maior parte fora de época, fora do sítio, estupidamente sem aviso prévio nem nenhum nexo. Mas que é isto? Está tudo doido?
Incapaz de permanecer deitado após este choque de neurónios sobre o tempo que faz, resolvi que talvez fosse avisado consultar o oráculo já que profetas meteorológicos dos satélites que giram lá pelos céus, não acertam em quase nada. Cheguei à conclusão que os deuses sabotaram os ditos cujos e agora as informações enganadoras para os tais profetas meteorológicos são tão mentirosas, como as aplicações mirabolantes de smartphones preveem a dez e mais dias. Não me façam rir!
Alguém me disse que para ir ao oráculo é recomendado ir em jejum pois isto de se falar com deuses tem o que se lhe diga e a penitência ainda parece ser o melhor para estas consultas mais elevadas.
Ah! Claro. O comprimido ibesartan 300mg hidroclorotiazida, 12,5 mg para manter a tensão arterial regulada não é quebrar jejum porque isto de falar com deuses é coisa séria e a tensão grande e eu já tomo todas as manhãs mesmo que não fale com ninguém. O que também é raro!
Eu bem sei que não é a primeira vez nas mitológicas devoções que a Humanidade, farta de divindades que perdem o controlo na sua missão de governarem esta complexa teia de astros e se tornam vingativas e sanguinolentas, resolve mudar tudo substituindo deuses e oráculos, cultos e devoções, etc. Mas, lá fui ao oráculo apareceram uns deuses de que não estava nada à espera.
Apresentaram-se-me, por esta ordem, Mercúrio deus romano da luz e da eloquência; Sofrósina deusa grega da moderação e da temperança; Aglaia deusa assíria da claridade); Taramis deus celta da chuva; Seth deus egípcio das catástrofes; Azuristchwei deus maia da tempestade; Éolo deus grego do vento. Fiquei siderado!
-Mas o que vem a ser isto? questionei o oráculo. Então venho tentar saber explicações para o que se está a passar e, apesar de ver aqui uns deuses moderados, não me aparece nenhum que me dê explicações sobre bom tempo, tudo azul, tudo verde, tudo cheio de luz dourada, enfim algo que me cheire a VERÃO!!!???
Foi Mercúrio parecia o mais graduado quem falou com voz de trovão:
- TEMOS PENA! MAS BALBER, O NOSSO COMPANHEIRO NÓRDICO QUE GERIA O VERÃO, COM ALGUMA EFICÁCIA, MORREU.
Embasbaquei de vez:
- Morreu? Mas, como é que isso é possível?
Voltou o trovão:
- QUERO DIZER. FOI ASSASSINADO! FORAM VOCÊS QUE O FORAM ENVENENANDO AO LONGO DOS TEMPOS.
Revoltei-me:
- Se soubesse não tinha vindo... isto é uma acusação? Então agora os deuses também são finitos?
Imperial e mal encarado:
- NÃO TEMOS MAIS NADA A DIZER-TE, Ó INFELIZ! AGORA AGUENTA.
Fechou-se a nuvem com um estrondo e acordei sobressaltado.
Afinal tinha estado a sonhar, a pensar que estava acordado?
A chuva a bater, com uma desavergonhada insistência na claraboia do quarto e eu ali meio sentado na cama a digerir o sonho/pesadelo.
O que é isto? Acusados de matar o escandinavo deus do Verão bastou para tanta perturbação? AH! Não brinquem comigo.
Afinal, nós andamos há décadas a estragar o cenário porquê? Porque os deuses permitiram que o estragássemos e agora castigam-nos? Isto, está a fazer recordar-me a história daquela mãe que deixou marmelada e bolachas à mão de semear e depois, zumba, uma chinelada no rabo da filharada porque se lambuzou toda ... oh deuses!
Uff... o que me havia de acontecer.
Até mais logo! Vou ver se chove...