Quando se anda a remexer em gavetas cheias de tudo e mais alguma coisa, desde agendas de anos muito passados, telemóveis do tempo da maria cachucha, carteiras com uns porta moedas incorporados que estoiram por aquele botãozinho que relaxa e deixa de segurar, uns carregadores que entretanto deixaram de ter par, um rato de computador que deixou de produzir detinha no monitor, comandos universais que já não mudam canais ou pilhas verteram o ácido, lâmpadas de incandescência trocadas por económicas, folhas soltas com umas coisas escritas cujo interesse ninguém se lembra juntamente com recortes de jornais e revistas que a gente guarda numa capa de plástico, para nada, a travessa da cadeira que ficou guardada à espera que a cadeira reclame a falta, uma caixa de folha com um cavalo na tampa e um isqueiro bic sem chama, uma esferográfica parker sem carga nem mola e uma nota de vinte escudos dentro... quando uma qualquer gaveta de um qualquer móvel consegue guardar isto tudo, e mais alguma coisa também consegue guardar um envelope com umas quantas fotos que saltaram de um álbum e depois ali ficaram esquecidamente guardadas. E, é da rusga a uma gaveta, a semana passada, que hoje deixo aqui quatro fotos, entre outras que saltaram de um envelope amarelo, anos de 1952 de Agosto, férias de família em Santo Amaro de Oeiras, tinha eu quatro anos.
Na praia a segurar os calções por baixo (não faço ideia porque não os segurava por cima) panamá na cabeça quando suportava panamá (hoje, se experimento algum, fujo aterrorizado mesmo sem me ver ao espelho); sentado ao lado do Paulinho que não faço ideia quem seja mas pode ser que o Paulinho tenha uma igual a esta e saiba quem eu sou (se a minha fosse viva certamente saberia foi quem identificou a foto); a passear com o meu pai num fim de tarde e talvez, a inspiradora para a decisão da viagem para a Ilha. Eu na jardinagem (coisas do meu subconsciente).
Por cá, a noite está serena e fria. Ouve-se o mar nas arribas e um céu de estrelas que cintilam indiferentes ao Verão que nos deixa desconsolado aqui em baixo. Amanhã, segundo as previsões para Colares, o tempo permanecerá assim... um Verão à espera de ser Verão!