Na idade da pedra lascada comunicar seria, talvez, à pedrada!
Porque não? Se pedra era o que havia mais à mão.
ou talvez à cacetada.
Num frente a frente, trocavam-se até uns murros.
De forma diferente, comunicava o homem de então.
Enquanto não aprendeu a falar, seria aos berros, aos gritos, aos urros.
Para abreviar a questão! Tudo era comunicação!
Mas, numa tarde de trovoada, quando andavam à pedrada,
saltou faísca de uma pedra; ou terá sido antes um raio(?)
Uma pequena chama se fez grande, enorme, de meter medo.
E não mais se apagou. Castigo dos deuses (está visto!)
Nunca vista por ali, tal coisa.
Abrigaram-se os homens nas grutas do medo,
bem como todos os outros animais
A fogueira poderosa não acabava. Chamas. Labaredas,
Um enorme calor
Estava tudo a arder que era um pavor,
Era preciso fugir. Quem não quisesse morrer.
Mas, passado algum tempo, houve quem descobrisse a solução.
Um pequeno tronco, um ramo a arder, bem seguro na mão
Dominar o fogo, descobrir utilidade. Um archote,
E o homem acabou com a agitação!
Subiu aos altos dos montes e nasceram mais fogueiras,
Iluminou-se a noite de outras maneiras,
Sinais de fogo, sinais de fumo…sinais e mais sinais…
e das paredes das grutas saíram linhas simples, desenhadas
Arcos, flechas, lanças, humanos e animais, riscos, traços,
Desejo de comunicar a vida em toda e qualquer parte
A comunicação. E hoje chamamos-lhe arte.
Pedras para riscos, pedras para escrever,
pedra roseta, tábuas de madeira, papiros, pergaminhos.
Símbolos simbolizados por letras, códigos, alfabetos,
Palavras, frases, ideias, como se fosse alguém a dizer
Para toda a eternidade! Para sempre, sem nunca morrer!
Oh! Cheira aqui a queimado. Há um fogo por dominar!
Tocam os sinos a rebate. É preciso comunicar!
Vai gente a correr pró combate. É preciso apagar…
E eis que chegou o papel!
Bibliotecas do saber, a informação, folhas e mais folhas,
Textos e mais textos, livros e mais livros, cadernos, revistas, jornais,
Árvores que ardem, árvores que se abatem, árvores que morrem.
Árvores que se transformam em livros, cadernos revistas, jornais,
Saber ler. Saber ouvir. Saber escutar. Comunicar.
Sempre a comunicar.
Telefone. Telégrafo. O cinema aprende a falar.
A voz. O som. A Imagem. A rádio. A televisão.
O satélite no espaço a girar. Dispara-se um foguetão.
“Dabliu”, “Dabliu”, “Dabliu”.
A tontura do progresso para além da imaginação
A vertigem da velocidade, chegou a globalização!
Esta coisa de ser chique. Tudo à distância de um clique!
A notícia em directo, o acontecimento antes de acontecer
Pode ser um grande sucesso ou uma enorme catástrofe
Smartphone, iphone, tablete, comunicação até mesmo na retrete.
Conversa, email, livro, jornal, realidade ou fantasia,
Cada vez mais virtual, no nonassegundo, pelo éter
Amor, paixão, amizade, crise do coração,
Ler, escrever, conversar, apostar, dizer bem e dizer mal.
Nem bem, nem mal, nem coisa e tal, antes assim.
E a estranha sensação de que quanto mais informados estamos,
Mais sós nos sentimos, mais virtuais nos transformamos
E menos comunicamos."
( Mário Jorge Santos, in “Memória Descritiva”, 2019 )