quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Democraticamente corruptos

Historicamente a corrupção sempre foi um dos maiores inimigos de uma nação. Promovida por governos pouco éticos e, geralmente, pouco eficientes, cabe assinalar que este fenómeno também é alimentado por sociedades viciadas ou no mínimo permissivas. 
Recentemente a ONG Transparency International publicou o 'índice de percepção de corrupção 2013' uma lista que são avaliados índices de corrupção de instituições e organismos administrativos e políticos de cada país.
Nas pontuações de 177 países, classificados em uma escala de 0 (muito corrupto ) a 100  nenhum país obteve resultado perfeito mas dois terços dos países estão abaixo de 50, o que indica um grave problema de corrupção em todo o mundo.
Os países do pódio são os inevitáveis - 1ºs ex-aequo, Dinamarca e Nova Zelândia; 2º Noruega e 3ºs ex-aequo Suécia, Finlândia e Suiça, respectivamente com 97, 95 e 92 pontos. Quanto aos mais corruptos, também aqui o ranking não oferece grandes surpresas ao atribuir 8 pontos à Coreia do Norte, Somália e Afeganistão.

A percepção da corrupção em Portugal agravou-se no período de dois anos, a tal ponto que demos um trambolhão de oito lugares (de 25º para 33º) com 59 pontos. 
Quem conhece a sociedade portuguesa até pode achar que as coisas não são bem assim até porque tendemos a excluir do leque dos fenómenos de corrupção e do tráfego de influências, os pequenos favores que o cidadão comum e o funcionário trocam considerando como normal o 'pedidozinho' que se faz para mexer ou não mexer no papel ou no processo, para dar andamento mais rápido no requerimento, para 'chegar primeiro' na vaga de emprego, etc, etc, etc.
Mas, por mais voltas que se deseje dar ao tema, o que é facto é que para o exterior continuamos a ter demasiados 'rabos de palha' para que a nossa imagem melhore.
É certo que, nesta Europa tão diversa em matéria de classificação, estamos à frente da Espanha, da Itália, da Hungria, da inevitável Grécia para não falarmos já nas nações dos balcãs e na Roménia mas isso, por si só, não chega para consolo.


Ninguém pode ignorar que os casos Expo98, Euro2004, Freeport, BPN, BPP, mais as PPP, contratos SWAP, submarinos, o TGV, o aeroporto do 'Jamais', a promiscuidade tantas vezes manifestada e nunca contrariada entre poder legislativo e os grandes escritórios de advogados, as constantes derrapagens nas obras públicas, os escândalos das empreitadas, os mega-processos como 'Operação Furacão', Monte Branco ou Face Oculta e muitos outros menores mas que fazem parte de um rol que turva os olhares mais críticos e destrói os alicerces da própria democracia.

Dir-se-á que nosso ADN colectivo existe algo que facilita o pelo menos o tráfego de influências mas ainda estamos a tempo de fazer um esforço para evitarmos esses pequenos escolhos que fazem encalhar a nossa democracia e não facilita a alteração da percepção que se tem das nossas instituições.

No momento em que se fala na necessidade de atrair investimento estrangeiro e com o país a lutar por sair de uma crise que dificilmente abandonará sem esse investimento, seria muito bom que todos nós adoptássemos outro olhar e outras práticas para que o exterior também nos começasse a ver de forma diferente.