sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ó SENHOR MINISTRO, EU FICO-LHE COM OS ESTALEIROS!

Julgo perceber, pelo que tem sido comentado publicamente, que o governo ao qual V. Exª pertence tem promovido negócios bastante interessantes para quem manifesta vontade de ficar com o património que é de todos nós. Como me sinto eivado desse espírito patriótico de infinita benemerência resolvi chegar-me à frente e, se não levar a mal, eu fico-lhe com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo. 

Receando o ligeiro atraso da minha candidatura, até porque V. Exª não se cansa de apregoar que tudo já ocorreu com a maior das limpezas num concurso internacional supervisionado por autoridades de ineludível transparência e reconhecido mérito que ninguém sabe muito bem quem são mas, mesmo assim, permita-me acalentar uma pequeníssima esperança de que haja ainda uma segunda oportunidade e com vantagens a apresentar.


De construção naval não entendo absolutamente nada! Mas não será impeditivo, já que a Martifer também não percebe nada de construção naval e não foi por isso que foi afastada, como se percebeu. Quanto a condições financeiras para me alcandorar a semelhante cometimento. A não ser que o critério seja eleger o maior devedor, posso garantir-lhe que o meu passivo é infinitamente menor que os 475 milhões de euros da Martifer. 

Prontifica-se V. Exª para o patriótico esforço de ficar com os ‘ossos’ dos estaleiros e pagar, isto é, de ir aos bolsos dos contribuintes sacar os 450 milhões de euros para resolver o passivo, mais aquela chatice do Atlântida e da divida que todos os dias aumenta na doca no Alfeite e mais 30 milhões de euros para indemnizar os 600 trabalhadores que vai ter de por na rua. É de uma generosidade excepcional que eu nem me atrevo a contestar. 

Já estabeleceu o preço para 'pagar' esta operação. Sete milhões euros até 2031, qualquer coisa como uma renda mensal de 32 mil euros. Bem, até suspeito que haja quem pague mais por umas dezenas de metros quadrados num centro comercial para vender sapatos ou roupas. Mas, isto só prova que V.Exª é, de facto, magnânimo.

E não posso deixar de me entusiasmar porque V. Exª vai deixar para a Martifer as encomendas já adjudicadas. Focalizemo-nos, então e apenas, nos asfalteiros da Venezuela no valor de 128 milhões de euros. Para uma margem modesta de 10% e um lucro estimado de 12,8 milhões de euros até digo a V. Exª que me deixo de mais, mais e pago os 7 milhões logo que receba o pagamento da Venezuela. Parece-lhe bem? Assim evito a maçada de andar com pagamentos todos os meses e V. Exª recebe logo e eu nem lhe falo em nenhum 'descontozinho' pronto pagamento, dado o estado em que se encontra o país. 

Quantos aos trabalhadores, o senhor vai despedi-los e livra-me desse aborrecimento, e eu depois decido de quantos precisarei, claro que pagos ao salário mínimo nacional (e olha lá!). Aí já V. Exª não tem que se preocupar porque já disse (e muito bem) que a solução encontrada permite a criação de postos de trabalho. Então, esquecendo os 600 que vão para o desemprego, se eu admitir um já criei um posto de trabalho. Mas não tema Vexa a estreiteza do raciocínio pois contratarei, certamente, mais uns quantos. Fazemos negócio?


Até lá, passe V.Exª muito bem e sobretudo durma descansado pois parece-me, modéstia à parte, que arranjou uma candidatura transparente e séria e seguramente não irá ter nenhuma dúvida com a escolha.