O senhor primeiro ministro era, há quinze anos atrás, pelo que se pode agora perceber, um rapaz sem consciência de que o facto de ser um trabalhador independente o obrigava a descontar de acordo com a lei. Extraordinário é, pois, vir agora dizer com aquele ar de que é a pessoa mais transparente e sincera do mundo de que não tinha consciência da sua obrigatoriedade.
E, nós? Ficamos a dormir na forma?
A facilidade com que o senhor primeiro ministro pretende dar a volta ao texto só revela que continua, passados quinze, a não ter consciência de coisa alguma. Afinal em que ficamos?
As dívidas à Segurança Social prescrevem ou não?
O cidadão Pedro Passos Coelho devia os 2.880 euros mais juros de mora que pagou ou os 5.160 euros mais os juros de mora correspondentes segundo o DN ou os milhões de que o CM dá notícia?
E nós? Ficamos a dormir na forma?
A dívida existia porque é o próprio devedor que a confirma, dizendo que a pagou logo que soube que devia. Se assim é, então o que veio Moata Soares dizer acerca de um erro administrativo que teria havido nos serviços da Segurança Social. Um erro de secretaria? Mas é isto um ministro da república?
Um rematado mentiroso que tenta atirar poeira para os olhos defendendo o primeiro ministro inconsciente que confessa não ter consciência do que deveria ter feito?
E nós? Ficamos a dormir na forma?
O senhor primeiro ministro diz coisas extraordinárias. Que isto tem a ver com a oposição que assim quer 'desviar' a luta política, em ano de eleições, para o ataque pessoal de sujar o seu nome mas que ele e a família toda se encontram preparados para se defenderem.
Significa isto que o senhor primeiro ministro acha que fugir ao fisco, seja a que pretexto for ( a ignorância da lei não é justificação para tornar o caso menos grave) é um ataque pessoal quando tudo é descoberto? Significa isto que o senhor primeiro ministro se afirma não ser perfeito como se ser ignorante ou ser um simples trapaceiro tenham a ver com perfeição e mas com carácter? Significa isto que o senhor primeiro ministro acha que afinal se pode governar um país como se estivesse em casa da tia a quem se vai à dispensa meter o dedo no frasco da compota e quando a senhora descobre lhe faz um sorrisinho ingénuo e arrependido e passa em branco pela a travessura.
Que dirão os milhões de cidadãos que se esfalfam por pagar os impostos e muitos outros milhares já têm bens penhorados por dívidas que em alguns casos (nos trabalhadores independentes por exemplo) reflectem a impossibilidade de liquidar montantes que nem sequer chegaram a auferir.
O senhor primeiro ministro não passa de um Xerife de Nottingham, em versão amadora sem vergonha, com total desprezo pela cidadania e pela democracia.
E nós? Ficamos a dormir na forma?
Ou ficamos à espera do Robin Hood?