PASSAM 47 ANOS sobre o dia em que eclodiu, em França,
o movimento que ficaria conhecido pelo 'MAIO DE 68' .
O 'timiing' escolhido, a seguir a um 1º de Maio já agitado por acções sindicais e inicio de uma greve geral, deu voz e corpo a um mal-estar acumulado em Nanterre, arredores de Paris, tradicionalmente de "esquerda" cujos estudantes ocuparam a Faculdade de Nanterre a 2 de Maio num protesto contra o ensino tradicional e a insuficiência de saídas profissionais.
Depois, ocuparam a Universidade da Sorbonne, encerrada pelas autoridades a 3 de Maio, debaixo de uma carga policial que fez alastrar a revolta. As barricadas nas ruas do Quartier Latin e carros incendiados, lojas destruídas, geraram confrontos com resultados devastadores e mais de 900 feridos, entre os quais 345 polícias num ciclo de repressão e de destruções, sempre em crsecendo A 9 de maio, contra esta tendência, dá-se, no Boulevard St. Michel, uma manifestação pacífica mas que não conseguiu inverter o processo.
No dia seguinte, regressa a violência, com a famosa "noite das barricadas", carros em chamas, agitação na Sorbonne, a culminar com a gigantesca manifestação estudantil em Paris, a 13 de Maio, com cerca de 600 000 estudantes.
O conflito contagia o sector laboral, com manifestações acompanhadas de greves que paralisaram mais de 10 milhões de trabalhadores embora sem o apoio declarado do Partido Comunista Francês e da Confederação Geral do Trabalho, que tentavam distanciar-se das revoltas estudantis e das greves classificando a agitação social como "aventureirismo esquerdista" dos estudantes.
Pompidou, o primeiro ministro, reabre a Sorbonne a 14 de Maio.
É dele a frase que ficou célebre de que era "proibido proibir".
Mas a pressão laboral não abranda e, com os trabalhadores das Usines Renault em greve por tempo indeterminado, a 27 de Maio chega-se aos acordos de Grenelle com as organizações patronais admitirem aumentos de 10% nos salários dos trabalhadores e o governo a decretar aumento de 35% no salário mínimo.
Os sindicatos aceitam, mas os trabalhadores mantêm as paralizações.
A possibilidade de ruptura e queda do Governo torna-se cada vez mais real e a 24 de Maio, de Gaulle dissolve a Assembleia e anuncia eleições legislativas para finais de Junho.
Receando o cescente do Partido Comunista, apesar da demarcação política deste no inicio da crise, começa a acreditar-se numa revolução nacional.
Nesse mesmo dia, junto ao Arco do Triunfo, os gaullistas organizam uma manifestação de apoio ao regime. O centro e a direita anti-gaullista colocam-se ao lado do Governo, que assim vê surgir uma base de apoio inesperada, ficando então a deter uma maioria esmagadora.
Nas eleições de 30 de Junho, o regime gaullista sai reforçado, com uma vitória da UDR (União Democrática Republicana) e um claro recuo dos partidos Socialista e Comunista,
Apesar do sucesso das eleições de Junho, o governo de Couve de Murville (primeiro-ministro gaullista eleito), de Gaulle sofrerá uma derrota política no referendo de Abril de 1969 sobre a regionalização e a reforma do Senado e demite-se abandonando a política.
NADA SERÁ COMO ANTES, DEPOIS DO MAIO DE 68
As instituições políticas não caíram mas tremeram, e os franceses repensaram o seu próprio futuro. Houve, acima de tudo, uma alteração das mentalidades, com o aparecimento de mudanças há muito esperadas em França.
Da sociedade francesa. parte a divulgação de trabalhos efectuados na área das ciências sociais e humanas que se torna uma realidade no mundo científico e se propaga ao trabalho modificando as relações laborais, responsabilização social das empresas e dos empregadores e valorização do trabalho não só pelo reconhecimento da mão de obra especializada e mais bem remunerada como pelos direitos dos trabalhadores na doença e na idade de reforma. A voz das minorias começa a levantar-se.
A crescente emancipação das mulheres, tanto social como financeiramente, torna-se um facto incontroverso e imparável..
O clero inicia uma autorreflexão.
Generosidade maior, humanismo, ecologia e nacionalismo são alguns dos conceitos herdados de todo este movimento contestatário de 68, antecâmara da realidade dos anos 70 e 80
Em breve, as ideias saídas do 'Maio de 68' materializavam-se um pouco por toda a parte do mundo ocidentalizado, incluindo Estados Unidos e propagavam-se ao Japão.
A vez da 'segunda revolução francesa'.