quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O milagre do Sol


O chamado Milagre do Sol foi um fenómeno testemunhado a 13 de Outubro de 1917 nos campos de Cova da Iria, perto de Fátima por uma multidão, cujas estimativas variam de 10 a 25 mil pessoas, por Avelino de Almeida, de 'O Século' a uns inacreditáveis 100 mil, segundo José de Almeida Garrett, professor de ciências na Universidade de Coimbra.
De acordo testemunhos ouvidos pelas autoridades civis e religiosas, após uma chuva torrencial, as nuvens desmancharam-se no firmamento e o Sol apareceu como um disco opaco, girando no céu. Algumas afirmaram que não se tratava do Sol, mas de um disco semelhante à Lua, menos brilhante, acompanhado de luzes multicoloridas que se reflectiam na paisagem, nas pessoas e nas nuvens e que o pretenso Sol se teria movido em ziguezague, ao mesmo tempo que produzia um silvo forte, assustando muitos que gritavam ser o fim do mundo. Muitas testemunhas relataram que a terra e as roupas molhadas ficaram secas em poucos minutos. De acordo com outros testemunhos, o Milagre do Sol durou aproximadamente dez minutos. As 3 crianças videntes, Lúcia, Francisco e Jacinta disseram ter visto Jesus, a Virgem Maria e São José abençoando as pessoas enquanto outras testemunhas afirmaram ter visto vultos de configuração humana dentro do pretenso Sol quando este desceu.


O facto do pretenso milagre ter sido anunciado antecipadamente, o abrupto início e final do evento sobre o Sol, a natureza diversa dos observadores, que incluía crentes e descrentes e o número de pessoas presentes e o facto de  'a dança' do Sol ter sido relatada por pessoas a mais de 18 quilómetros de distância, em outros lugares, afasta decisivamente a hipótese de histeria em massa.

A explicação, do pretenso milagre, com base em fenómenos naturais  assenta em várias teorias apesar da predição de que ia ocorrer em determinada data.
O professor Auguste Meessen do Instituto de Física da Universidade Católica da Lovaina, afirmou que as observações relatadas foram efeitos ópticos causados pela prolongada observação directa do Sol e que as imagens residuais na retina, produzidas após períodos de olhar fixo no Sol, são a causa provável dos efeitos observados. Meessen adverte que 'milagres' do Sol têm sido testemunhados em muitos locais onde peregrinos cheios de religiosidade têm sido encorajados a olhar para o Sol. Ele cita, como exemplo, as aparições em Heroldsbach, Alemanha (1949), onde os mesmos exactos efeitos ópticos foram testemunhados por mais de 30 mil pessoas.
Stanley L. Jaki, beneditino e autor de livros que tentam conciliar a ciência com o catolicismo, propôs uma teoria para o milagre. Para ele, o fenómeno pode ter sido meteorológico em natureza, mas o facto de ter ocorrido no exacto tempo prenunciado é por si, um milagre.
Uma explicação que tem vindo a ganhar cada vez mais consistência e que procura conciliar os testemunhos da época, a ciência e o que actualmente se conhece sobre fenómenos similares ocorridos noutros locais, é a de que o Sol a rodar e a dançar não era realmente o Sol, mas um objecto voador não identificado (OVNI) que obscureceu o verdadeiro Sol através de nuvens artificiais ou não e se sobrepôs a ele.
O evento foi oficialmente aceite como um milagre pela Igreja Católica em 13 de Outubro de 1930. Em 13 de outubro de 1951, o cardeal Tedeschini afirma que, em 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro, o papa Pio XII presenciou um milagre semelhante nos jardins do Vaticano.

 Ligações e antecedentes: 

No dia 13 de Maio de 1917, 3 crianças Lúcia de Jesus Santos (10 anos), Francisco Marto (9 anos) e Jacinta Marto (7 anos)) afirmaram ter visto "...uma senhora mais branca que o Sol" sobre uma azinheira de cerca de um metro de altura quando apascentavam um pequeno rebanho na Cova da Iria, freguesia de Aljustrel, concelho de Vila Nova de Ourém.
Lúcia via, ouvia e falava com a aparição.
Jacinta via e ouvia mas não comunicava.  Francisco apenas via, mas não a ouvia. As aparições repetiram-se nos cinco meses seguintes com mensagens que ficariam como 'Os segredos de Fátima'. A 13 de Outubro de 1917, data do 'milagre do Sol',  a aparição disse-lhes ser Nossa Senhora do Rosário.

Os relatos destes acontecimentos foram redigidos pela Irmã Lúcia apenas a partir de 1935, em quatro manuscritos, habitualmente designados por Memórias I, II, III e IV.
Eis um dos diálogos sobre o primeiro segredo, tal como Lúcia o relatou.
Lúcia: - Que é que Vossemecê me quer?
Senhora: – Quero dizer-te que façam aqui uma capela em minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas. -
Eu tinha muitas coisas para Lhe pedir: se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc.
Senhora - Uns, sim; outros, não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados. (e tomando um aspecto mais triste) – Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido (e abrindo as mãos, fê-las reflectir no Sol e enquanto que se elevava, continuava o reflexo da Sua própria luz a projectar-se no Sol).
"Desaparecida Nossa Senhora, na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do sol, S. José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. Era a Sagrada Família. Vi S. José com o Menino ao colo pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nosso Senhor acabrunhado de dôr a caminho do Calvário e Nossa Senhora que me dava a ideia de ser Nossa Senhora das Dores."
O ciclo das aparições em Fátima terminara.
As profecias de Fátima têm constituído, ao longo de décadas, motivo de grande controvérsia no interior da própria Igreja Católica, como é sabido.
Mesmo acreditando-se na hipótese de Lúcia e dos seus dois primos Jacinta e Francisco terem tido as visões, as descrições feitas pela irmã Lúcia, em 1935, continuam a levantar dúvidas e, constituiram-se, ao longo dos tempos,  num aproveitamento não só por parte da Igreja Católica como também de forças políticas e outras, para os não crentes. 
Por outro lado, existem relatos e notícias sobre episódios que envolveram forças policiais que a mandado do governo da república logo a seguir à 'aparição' em Maio de 1917 submeteram as 3 crianças a interrogatórios violentos e a ameaças às famílias. Quem poderia ter estado por detrás disto? Quem se sentiria incomodado?
  
Seja como for, 'Fátima' transformou-se num fenómeno poderoso cuja importância extravasa os próprios 'limites' da fé e da religiosidade, abrangendo toda a sociedade, pelas consequências económicas e sociais que suscitam e expandem, através do 'marketing' e do 'merchandising' montados à volta desta terra e dos acontecimentos que a tornaram mundialmente famosa. Fátima deixou de ser, há muito, apenas um lugar de culto para se tornar um verdadeiro cenário turístico, onde comércio e serviços têm prosperado.

As minhas dúvidas fazem a minha opinião

Existe, como é natural, uma ampla bibliografia sobre o assunto, quer se proponha apenas o lado religioso e sobrenatural, quer se tente explicar o acontecimento face à ciência. Tenho lido praticamente tudo o que me chega às mãos sobre o assunto. Pelo facto de não ser católico, nem ter qualquer outra religião, nada me influencia nem me anima contra, mas gostaria que a verdade pudesse ser um dia contada, seja ela qual for, para que a História não dependesse da fé de cada um, apenas.
Algumas questões sobre a natureza e o conteúdo dos segredos, para além das descrições sobre as aparições parecem tiradas de uma qualquer história infantil, desde as roupas que trajava a Senhora que parece um guarda roupa 'copiado' das imagens que se vêem em todos os altares até à forma como dialogavam, pelos vistos, em bom português da época.
Porquê aparecer a 3 pastorinhos de 10, 9 e 7 anos, num lugar do concelho de Vila Nova de Ourém (imaginem o que seria em 1917) para deixar mensagens sobre questões tão transcendentes como 'os comunistas a matarem os fieis' ou sobre 'a guerra que iria acabar em breve e a última sobre 'o ataque ao Anjo vestido de branco';
A política envolvida? 1917, um ano chave da República em que a Igreja e o Estado Português queriam 'fazer as pazes' depois de anos de perseguições à Igreja por parte dos republicanos mais extremistas? 
Um ano que a nossa participação na primeira guerra tinha deixado os cofres da República exangues e o povo cada vez mais descrente? Passaram quase 30 anos até que a irmã Lúcia começasse a narrar toda a sua história, em clausura desde pouco depois das visões da qual nunca sairia até à morte?  
Os 3 segredos de Fátima careceram sempre de interpretação adequada e nunca foram corrigidos de certas imprecisões históricas, sobretudo datas e personagens? Apenas, digamos que adaptações?
Finalmente, à medida que a controvérsia ia subindo de tom, parece-me suspeito que João Paulo II, um dos Papas mais conservadores mas também dos mais mediáticos, tentar pôr um fim a estas questões, não só interpretando o terceiro segredo como a premonição do seu próprio atentado (na altura disse acreditar ter sido a mão de Nossa Senhora de Fátima que desviou as balas impedindo a sua morte) como ter proporcionado o reconhecimento da santidade dos pastorinhos culminada com a sua beatificação.


Talvez um dia, se faça luz... quando não houver o receio
de que muitos possam ficar na 'escuridão'!