sábado, 16 de outubro de 2010

Se não é parece....I

Ora aqui temos mais uma brincadeira.
O Orçamento chegou, finalmente, ao Parlamento às 23H26 de ontem! 
Não, não estou enganado, eram mesmo vinte e três horas e vinte e seis minutos. 

Mas, brincadeira por brincadeira, o mais grave prende-se, ao que parece, com o facto de ter sido distribuído aos partidos um documento que não passa quase de 'rascunho':
- não apresenta um cenário macroeconómico, ou seja, o governo esconde ou pior, não consegue prever, o que é provável que aconteça. 
- não diz quanto vai crescer o PIB, seja esse crescimento positivo ou negativo, aliás como se espera que seja bem negativo; 
- não explica o que vai  acontecer com a balança comercial, ou seja, qual o saldo entre as importações e as exportações; 
- esconde quanto, consumos público e privado, vão retroceder; 
- esquece qual o impacto no investimento público e no privado.
Parece que, e mais uma vez, o governo se preocupou nos mil e não sei quantos milhões que vai sacar com o aumento da carga fiscal quer pelo lado directo do aumento dos impostos, quer indirectamente com a retirada de deduções à colecta do IRS à custa da classe média e das famílias de mais baixos recursos e, por outro lado, quanto vai deixar de gastar, essencialmente à custa dos salários dos funcionários públicos e de mais cortes em subsídios e apoios sociais. Nem uma palavra sobre o óbvio impacto destas medidas no lado económico  
O governo preocupa~se, apenas, em mostrar aos mercados (agora chama-se assim à ganancia e à especulação financeira) que está a fazer um esforço para pagar o que deve, seja qual for o preço, mesmo que depois ninguém possa pagar seja o que for.

Internamente, é a prova real de que as medidas propostas são tão gravosas que para além de perspectivarem uma inevitável recessão, deixarão as famílias portuguesas, principalmente as de menores rendimentos em estado de miséria e as da classe média em estado de pobreza e continua sem resposta para quê estes sacrifícios.
Ao contrário do que o governo e os suspeitos do costume dizem, assim não é possível acompanhar o governo neste orçamento, nem com uma tímida abstenção!
Dir-se-à que é exactamente isso que o governo pretende.
Provocar matéria suficiente para que 'o deitem abaixo' e manter-se, durante os próximos meses, um governo de gestão em duodécimo, vítima de uma oposição pretensamente irresponsável e sem qualquer sentido patriótico que, com o tal provocador chumbo orçamental, atirou o país para os lados da Grécia? 
O governo parece ter feito contas à vida e terá chegado à conclusão que a moção de censura que o apeará de São Bento irá inevitável e inexoravelmente surgir daqui por uns seis ou sete meses, isto é, logo que a constituição permita ao presidente da república, que poderá ser Cavaco, dissolver o Parlamento. 
Por essa altura, o país já terá entrado num tal estado de degradação económica e social que será melhor para o governo não ter agora nenhum orçamento aprovado. Sempre terá a desculpa de que foi a oposição que contribuiu decisivamente para isso. 
Se não é, parece!


De qualquer modo vamos aguardar pela conferência de imprensa que está marcada para as 10H00...será que vai haver mesmo?