quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Espécie de carta aberta de alguém que não fica muito bem visto.

 

Caros Terráqueos,
Sei que estão fartos de mim e desejosos que eu faleça.
Pois muito bem! Já falta pouco e estou já a antecipar a vossa incontida alegria nas doze badaladas de amanhã, vê-los saltar para cima de uma cadeira ou de um sofá, flute a borbulhar na mão, a notita amarfanhada na outra, e as doze passas ritmadamente engolidas um grande chinfrim com pedidos ao novo que nasce e um adeus muito aliviado a mim que me fino. Mas, afinal não é sempre assim?
Conhecem alguém que se despeça de um ano com pena?
É capaz de haver alguns, mas muito poucos, porque vocês terráqueos, além de mal agradecidos, sois ambiciosos e hipócritas. E, sempre uns esperançoso do caraças.
Por muito bom que eu pudesse ter sido, quando chegasse a meia noite de amanhã, vocês terráqueos saltariam à mesma de contentamento e a passagem de testemunho sempre teria a carga de alívio como se não tivesse prestado para nada?
Embora tivesse começado no meu antecessor, já sei que vou ser eu que vou ficar, nas vossas pobres cabeças, como o vilão por ter interrompido as vossas egoístas e rotineiras vidinhas, apenas mês e meio após o meu início. Paciência! Também não estou aqui para lhes pedir desculpa.
E, depois, não andaram logo tantos a dizer, "Estamos todos no mesmo barco"; "Vamos todos ficar bem" e outras palermices no género, não sei se irritantes optimistas, inocentes ingénuos ou simplesmente parvos e que agora devem estar entre os que mais saltam de satisfação com a minha morte?!
A vida é mesmo assim; tratem de descobrir as coisas boas.
A vacina já a têm e lembrem-se que ainda foi no meu tempo.
Muitos de vós até exultaram com o teletrabalho e poderem desempenhar funções no vosso acolhedor pijama e com o "escritório" a dois ou três metros do vosso quarto, sem terem de suportar o olhar do chefe por cima do ombro nem aquela rotina estúpida do cigarrinho lá fora. à porta da empresa ou a mijinha mais demorada no WC apenas porque já estavam fartos do dia.
Não me vou por aqui a enunciar todas as novidades mas foi giro vê-los com as bocas tapadas - para muitos foi profilático - e a acotovelarem-se constantemente - nunca percebi porquê se depois inventaram a tal etiqueta respiratória de tossir e espirrar para a zona perto do cotovelo - mas também foi muito interessante o cuidado com a higiene das mãos e foi um excelente negócio para determinadas empresas.
E, então para as compras online e as entregas porta-a-porta? Nem falo!
Agora não se esqueçam de se por aos abraços e aos beijinhos quando eu falecer e nascer o outro! Depois queixem-se de que se contagiaram e o culpado é o dois mil e vinte e um.
Bem, para não pensarem que me vou sem festa, arranjei-lhes para o fim mais uma depressãozita. A Bella! Beleza de frio e chuva. que começará em força só após a minha morte... ao menos alguém que a chore! Ah! E, mantenham-se espertos porque lhes deixo mutações do bicho, para se recordarem de mim por um pouco mais tempo.
Gostei de ter estado convosco e sejam felizes,
Despeço-me com uma cotovelada.

Dois Mil e Vinte


terça-feira, 29 de dezembro de 2020

SOBRE OS VELHOS E OUTROS QUE A PANDEMIA AVIVOU

 

Escrevi propositadamente VELHOS.
Não idosos, maiores, seniores ou qualquer outro termo, que os tempos dos preconceitos inúteis determinaram que VELHO passasse a ser uma palavra ofensiva para designar à bruta uma pessoa de um determinado grupo etário?! O Estado, menos virtuoso, manteve a designação cruel e continua a atribuir "PENSÕES POR VELHICE" aos VELHOS!

Quando eu nasci - 1948 - não havia certamente estudos muito fiáveis sobre "ESPERANÇA MÉDIA DE VIDA À NASCENÇA" mas, pela Pordata, em 1960, este índice seria apenas ligeiramente superior aos 60 anos e transcorridos 58 anos, cresceu mais de 20 anos (em 2018 - 81,3 anos).
Por outro lado, em 1971, éramos 8,6 milhões e os maiores de 65 anos, 9,7% ou seja 836 mil habitantes; volvidos 48 anos, (2019) a população com idade superior a 65 anos é de 2,3 milhões, o que representa 22% de um total de 10,3 milhões de residentes em Portugal continental e regiões autónomas.
Mas, este é um fenómeno mundial que se faz sentir ainda com maior incidência numa Europa envelhecida onde o "Estado Social" enfrenta cada vez maiores dificuldades para manter a sua sustentabilidade e continuar a assegurar os seus compromissos de dar uma vida digna aos seus VELHOS!

A pandemia veio reforçar estas preocupações e destapar as inúmeras deficiências; desde muito cedo ficou provado que o vírus na sua "cega" propagação faria mais vítimas nos hospedeiros mais vulneráveis com patologias associadas e, logo, entre estes a esmagadora maioria dos mais velhos entre os VELHOS.
Assim é que os 5880 óbitos com covid-19 na faixa acima dos 70 anos representam 88,1% do total de mortes e acima dos 80 anos morreram por covid-19, 4.521 ou seja 67,8% do total (6.677 mortes até hoje).
Impressionante e muito pouco explicável, a enormidade dos surtos em lares e o número de vítimas ocasionadas. A falta de medidas adequadas

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

ESPÉCIE DE CARTA ABERTA AO MINISTRO CABRITA

 

Excelentíssimo senhor ministro Cabrita,
Saiba Voscelência, não que isso lhe importe muito digo eu com os nervos, que estive a gramar a transmissão em directo da Assembleia da República para discussão e votação do pedido de implementação de novo período de estado de emergência.
E, depois dos senhores deputados dos diferentes partidos e já agora daqueles que ficaram voluntariamente sem partido mas não ficaram sem o empregozinho pois continuam voluntariamente como se nada fosse, terem botado discursos mais ou menos iguais para as razões do costume, eis que Voscelência sobe a tribuna, impante com o seu ar de despenteado mental e de homem que está ali para pegar o boi pelos cornos (perdoe-me Voscelência o linguajar por ventura atrevido, salvo seja o "ventura", chiça, dizia eu, sobe Voscelência ao palanque para nos dizer das razões do pedido do governo e sobretudo do imenso sucesso das medidas tomadas até á data.
Voscelência, sôr ministro Cabrita, perdoar-me-á o deslize, não veja má vontade na minha observação mas, hoje pareceu-me um bocadinho mais alucinado do que o costume, tanto mais que a determinada altura até pensei que Voscelência tenha andado estes últimos meses na China ou coisa que o valha.
É que sôr ministro Cabrita, Voscelência acha que nós os portugueses andam a portar-se tão bem mas tão bem que em dez milhões ter mais de quatro mil infectados diariamente e andar acima das oitenta mortes é bom sinal? Ou será que Voscelência quis dizer que andamos a testar menos??????????
E é sobretudo um sinal muito positivo as forças de segurança terem apenas identificado e detido sessenta cidadãos que andavam a passear sem o cão a altas horas?
E que é um excelente sinal o "erre" não sei das quantas estar abaixo de um porque assim só o Macron é que infecta o Costa, no estrangeiro e por cá um infectado só consegue infectar zero vírgula nove de outra pessoa?
E que é um maravilhoso sucesso do governo durante a emergência ter integrado - seja lá o que isso queira dizer - mais de duzentos mil imigrantes e que até só temos a relatar uma morte, numa sala de aeroporto, de um imigrante e nem sequer foi de covid? Se calhar foi de excesso de integração?
E que vai continuar a ser um sucesso estas medidas de uma "democrática emergência" em que ninguém sabe muito bem o que se pode e o que não se pode fazer, a uma semana da tal noite natalícia que está aí mesmo ao virar da esquina?
E, sobretudo Voscelência acha um êxito extravagante este "lavar de mãos" sobre o que se está a passar realmente no país que agora olha para a vacina e para a bazuca com a esperança de que nem as vacinas falhem a esperança nem os morteiros da bazuca falhem os alvos.
PORQUE SÔR CABRITA - e desculpe-me os gritos mas é para chamar a atenção de Voscelência, MAIS PARECIA O MINISTRO DA PROPAGANDA QUE UM MEMBRO DE UM GOVERNO QUE SABE O QUE ANDA A FAZER COM A PANDEMIA E QUE ENQUANTO A EUROPA SE FECHA, O SÔR VEM PARA AQUI DIZER QUE ISTO É DEMOCRÁTICO E NO RESPEITO PELA LIBERDADE É PRECISO É SERMOS RESPONSÁVEIS!!!
O sôr Costa também se fartou de apelar à responsabilidade e foi contaminar-se a França? Que azar! Que merda! Assim até eu posso infectar-me a tomar uma bica e a comer um croquete no café aqui de fronte... e sempre com a maior das responsabilidades!
Tenha Voscelência um exponencial dia e cuide-se!
E aceite os meus protestos cumprimentalícios para um excelente Natal e um próspero Ano Novo.


terça-feira, 15 de dezembro de 2020

HODIAU GII TAGO EN ESPERANTO


Hodiâu gii tago en esperanto, lingvo pli parolata en cîen mondo!

("hoje é o dia do esperanto a língua mais falada em todo o mundo").


A palavra “Babel”, hebraica, vem de balal que significa confundir. 

Uma passagem bíblica que diz respeito à comunicação entre os povos está relatada no capítulo onze de Gênesis onde, de acordo com as escrituras, todos os povos à face da terra tinham um único idioma e não tinham dificuldade em comunicar quando um grupo partiu para o oriente e passaram a morar numa extensa planície junto ao Sinai. 

Começaram, então, a edificar uma uma torre e diziam que o topo tocaria os céus para que chegasse a Deus. Após esta decisão, há o relato de que o Senhor desceu para ver a torre que estavam construindo e então Ele zangou-se com a ambição desmedida dos homens e disse “Eis que o povo é um e todos têm a mesma linguagem. E isto apenas lhes deu desejo de cobiça e grandeza. Pois, deixareis de vos compreender e ouvir as vossas falas serão confundidas, para que um não entenda a língua do outro” (Gn 11,6:7). 

Assim, os homens deixaram de se entender e a "Torre de Babel" ficou pelos alicerces.

Que tem isto a ver com o Esperanto? 

LUDWICK ZAMENOHFF nascido em Varsóvia a 15 de Dezembro de 1859 engendrou uma língua auxiliar que pudesse ser falada, em todo o mundo, e unisse as pessoas e os povos. Ambição cujo sucesso seria mais bem entregado a um deus e assim surgiu em 1887 a publicação de U UNUA LIBRO, (O Primeiro Livro) cujo autor prefaciava o objectivo de quebrar as barreiras linguísticas e unir os diferentes povos.
Hoje estima-se que cerca de 20 milhões de pessoas não fluentes e 6 milhões de falantes fluentes.
Utilizado em cartas, intercâmbios culturais, convenções, transmissões de rádio e de televisão e outros eventos onde se fale mais do que um idioma nunca atingiu os objectivos a que se propunha o seu criador.

I LIKE BEAUCOUP DE BANANA BECAUSE N' A PAS DE CAROÇOS|!
não é esperanto mas é espantoso!
Havi an bonega nokto!!!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

DIA MUNDIAL DO MACACO

 

É VERDADE, NÃO ESTRANHEM!
Hoje, embora não oficialmente, é o "dia mundial do macaco"
Em 2000, quando o cartoonista norte americano Casey Sorrow escreveu por brincadeira “Dia do Macaco” no calendário de um amigo e desde esse dia vários amigos e outros estudantes de arte da Universidade do Michigan começaram a celebrar o dia.
A brincadeira, com a introdução da data em bandas desenhadas de Casey e de outros cartoonistas, foi ganhando visibilidade e com a internet, foi conquistando apoios e adeptos ao longo destes 15 anos, e actualmente já conta com o reconhecimento de organizações não governamentais e de defesa dos animais.
Este é assim um dia de "macadadas" mas também com o principal objectivo, este ano, de alertar a sociedade para a protecção de macacos que são utilizados em testes médicos.
Façam 'macacadas' à vontade (pelo menos hoje!)

EU E OS MEUS FANTASMAS

 

Andava às voltas, na semiobscuridade do quarto e quando se reflectia no espelho da porta do roupeiro, parava a olhar esse vulto de fantasma sem sono.
Os fantasmas não têm sono! Tanto que só andam de noite e, de preferência, no escuro. Por isso, ou dormem durante o dia ou não dormem de todo. E, se não dormem é porque não têm sono!
Acabava por se deixar cair, pesadamente de costas, no sítio onde o colchão que lhe servia de cama, devia estar.
Era uma daquelas quedas que se vê nos filmes mas nesses não se vê o colchão para dar a sensação de queda fatal---
Já tentara, por várias vezes, alguns truques para adormecer mas não conseguia...tinha de lhe telefonar ainda.
Sabia que era tarde... nem olhava para o relógio digital em cima da mesa baixa ao lado do candeeiro com a lâmpada à vista e o quebra-luz meio amolgado, no chão.
Ela atendia sempre ao terceiro ou quarto toques.
Voz quente meio ensonada. Quase murmúrio. "És tu.....?"
Ele respondia numa breve hesitação: "Sim....desculpa!
E ela: "Não tem importância......diz....."
E ele dizia uma série de disparates enquanto lhe adivinhava um sorriso ou, por vezes, um bocejo de espanto.
Quanto tempo estava naquilo? Falava. Apenas, falava..
Depois, no receio de que, entretanto, ela tivesse adormecido, despedia-se: "Até amanhã; desculpa. Precisava mesmo de falar contigo". Umas vezes terminava com um beijo.
Desligava, sem sequer esperar por resposta.
Era assim. E, no entanto, nunca estivera com ela!
Trocaram amizade na rede social e mensagens no chat, ate que uma vez, trocaram números de telemóvel....foi assim que tudo começou. Só que nunca se iriam encontrar.
Ele só queria conversar...apaixonara-se por aquela voz calma, suave, linda assim ensonada.
Era tudo! Preferia continuar fantasma sem sono.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

ÚLTIMA HORA - REPORTAGEM CM

 

- Em directo do cemitério dos Prazeres, estamos a tentar perceber o que se passou aqui, esta madrugada, quando um indivíduo do sexo masculino foi enterrado tendo apenas por acompanhamento dois homens vestidos de negro e um outro com ar de fidalgo discretamente se retirou logo que o acto foi consumado. Tudo isto é estranho, não só devido às horas, eram quatro da manhã, e também pelo facto de não trazer ninguém de família ou amigo a acompanhar, a não ser os dois homens de negro e o tal outro que se manteve sempre afastado mais parecendo só confirmar o enterramento e não acompanhar. Mas, temos aqui ao nosso lado Sebastião Pazada que é o coveiro e que nos tem para dizer mais qualquer coisa.
- Sr. Sebastião Pazada, o senhor é aqui coveiro há quantos anos?
- Desde 3 de Outubro de 1610.
- Há 30 anos, portanto.
- Sim senhor...
- E lembra-se de alguma vez ter feito coisa semelhante à de ontem?
- Bem, vocemessê sabe, se sou coveiro nunca fiz outra coisa na vida.
- Bom! OK. Não era isso que queria dizer mas então conte-nos lá o que se passou aqui.
- Bem, os dois senhores que disseram que eram da justiça ou lá o que eram, chegaram aqui com o corpo já cadáver sem identificação na carroça do Manel Chiné, que por acaso costuma fazer serviços destes mas só pra quem não pode pagar o funeral, e disseram-me para o enterrar sem fazer perguntas.
- Então não sabe o que se passou antes? Mas o senhor disse-nos que...
- Calma lá qu'ainda não acabei. Vocêzes os da comunicação social são sempre uns apressados de merda qu' a gente ás vezes nem consegue expressar-se como deve ser.
- Desculpe senhor Sebastião... é que....é o tempo, sabe...
- Olhe, cá vai. Entretanto deixaram aqui o corpo e foram lá fora fazer não sei o quê e foi o Manel Chiné que me disse que tinha ido buscar o homem já cadáver a um casebre para os lados de Chelas e disseram que tinha sido levado para ali por um bando de ladrões depois de ter sido atirado da janela do Palácio da Ribeira com várias facadas no peito e no coração. Ele quando chegou aqui ainda vinha com a mesma roupa cheia de sangue seco, na camisa, no gibão, nos calções...
-Ah! Então foi algum crime?
- Não sei não senhor. Um amigo que é criado da senhora duquesa de Mântua, aquela que é a dona disto tudo quando não está cá o Filipe, espanhol, diz que ouviu grandes ralhos, um enorme reboliço logo de manhã e pode ter sido assalto ou violência doméstica...
- Bem, senhor Sebastião, obrigado pelas suas declarações dizem-me do estúdio que o colega João Meças Curioso tem informações noutro local de reportagem. A transmissão para ti, João!!!
- Obrigado Zétó. Estamos aqui junto ao Paço da Ribeira, precisamente por debaixo da janela da biblioteca que pudemos saber ser a tal janela de onde foi atirado o homem com a faca já espetada no peito. Estamos junto a um dos seguranças que pertence ao corpo privado da senhora duquesa de Mântua e que diz ter visto tudo o que se passou aqui, ontem à tarde. Diga-nos senhor Juanito Peras, é esse o seu nome, não é verdade(?) que se passou aqui ontem à tarde?
- Bien, coño hombre, que miedo. Entraran por aí uns hidalgos de armas na mão y me fué dito pra cerrar los ojos y me quedar num canto que nadie más; Y coño, cuando por aí desataran a los tiros e espadêradas contra los guardas, coño, estaban furiosos y como la duquesa se fuera à Madri, fuéran en busca d'el secretário Vasconcelos y lo hoderan con una puñalada en el pecho e lo jugaran por la ventana...
- E, então, houve mais ...?
- Después, se bieran otros hombres de mantillas neras e lo levaran no lo sei, pero um deles era Manel Chiné y su carro à caballos, quelieva para el cementério que és de los Plazeres, me parece.
- Muito bem. Então e agora?
- Ahora, la duquesa se fué y lo digan que no vuelve más e assi me quedo desempleado....és una mierda! Pero no me vô quedar assi, sinmás nada... mañana conseguiré el subsdio!
- Então boa sorte. E é tudo aqui do Paço da Ribeira. passo a emissão para o estúdio.
- Obrigado aos dois. Continuando para dizer que foi então encontrado morto, ontem ao fim da manhã, junto a uma janela do primeiro andar do Paço da Ribeira, o homem que aparentava ter entre os 40 e 50 anos, vestia um colete de veludo com bordados a ouro e calções aos gomos 'collants' de lã verdes e só tinha calçado um sapato de verniz preto e fivela dourada. Tinha um punhal espetado no peito e os colarinhos do gibão e o rosto e pescoço muito ensanguentados. Por averiguar ficou o facto de não se poder saber se se terá espetado ao cair ou se já vinha espetado quando saiu pela janela. Ignora-se o motivo de saída funesta já que a escadaria do palácio estava em perfeitas condições para uma saída em segurança! Voltaremos com mais desenvolvimentos. Continuação de uma excelente dia!

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

AS DEZ LÍNGUAS DE PORTUGAL

 


Não, não estou a ficar senil nem perdi o razoável da razão. Estou a limitar-me a discorrer sobre os "12 segredos da Língua Portuguesa" de Marco Neves, professor, conservador, tradutor, revisor e recentemente autor deste livro que ando a ler cada vez com maior interesse.
Portugal é um país que muitos apontam de monolinguismo, em contraste, por exemplo, com Espanha, caldo de línguas e nomes de línguas.
A verdade é que, mesmo se usarmos o mais apertado dos critérios para contar línguas, em Portugal temos duas línguas nativas: o português e o mirandês, que é reconhecido oficialmente desde há uns anos.
Ora, mesmo as fronteiras destas duas línguas são difíceis de definir: será que o português e o galego são a mesma língua? Será que o mirandês é apenas uma variedade duma língua maior (o leonês — ou asturiano)?

Apresento-vos as 10 línguas do nosso país que muitos ainda acham ser um país de um só idioma:

  1. Português. Já falámos muito da língua portuguesa por isso, só duas notas: é oficial há muito tempo (embora não há tanto tempo como se pensa) e há quem lhe chame galego mas as provocações ficam por aqui.
  2. Língua Gestual Portuguesa. É uma língua a sério e nem sequer tem muito a ver com o nosso português oral. Por exemplo, enquanto portugueses e brasileiros se entendem em português (tem dias), os surdos brasileiros usam uma língua gestual muito diferente. Da mesma forma, a língua gestual portuguesa pouco tem a ver com a espanhola nem se pode dizer que seja uma língua latina. As relações entre as línguas gestuais são outras e cada uma tem um vocabulário, uma gramática e normas próprias. Pasmem agora: esta língua é referida pelo nome na nossa constituição (algo que nem o mirandês consegue).
  3. Mirandês, língua falada por uns quantos milhares de pessoas num canto do país. Haverá quem não perceba para que serve preservar à força um falar antigo inútil mas, já agora, há um projecto de tradução de inglês para mirandês pedido por um japonês. E, surgiu a Mensagem de Fernando Pessoa em mirandês. O mundo é estranho.
  4. Cabo-verdiano (ou «kabuverdianu»). No dia-a-dia, chamamos-lhe crioulo (que, no fundo, não é o nome da língua, mas antes o tipo de língua). O cabo-verdiano tem regras como qualquer língua, vocabulário próprio e que já começa a ter alguns dicionários e gramáticas; no entanto, ainda não é oficial em Cabo Verde. Em Portugal, é falado por imigrantes e portugueses de origem cabo-verdiana. O número de falantes em Portugal chega a 200 000 pessoas. 
  5. Barranquenho. Este falar alentejano, ali espetado quase no meio da Andaluzia, já foi estudado por um grande linguista, José Leite de Vasconcelos. Muitos associam a terra a confusões tauromáquicas, mas é também um município com uma língua própria, pelo menos assim à primeira vista, os naturais de Barrancos falam "barranquenho".
  6. Minderico. Esta é uma língua curiosa, falada ali no meio da Serra de Aire e Candeeiros. Começou como código secreto para que comerciantes comunicassem sem que ninguém percebesse. Com o andar dos anos, transformou-se num falar usado por muita gente, em todos os contextos sociais, nessas comunidades serranas. Muitos acharão um excesso para lá do razoável incluir este falar numa lista de línguas. Mas está no Ethnologue e tem um código ISO próprio.
  7. Caló português. Esta é a língua de muitos ciganos, que terá uma base portuguesa e muito vocabulário proveniente do romani. Segundo o Ethnologue, é falada por umas 5000 pessoas, em Portugal, e está relacionada intimamente com o caló espanhol, o caló catalão, entre outros.
  8. Romani. Esta é a língua indo-iraniana de muitos ciganos europeus. Se a maior parte dos ciganos portugueses falarão em caló (quando não estão a falar em português, claro está), diz o Ethnologue que há umas 500 pessoas a falar romani em Portugal. Ou seja: temos portugueses que falam uma língua aparentada com o persa. Curioso, não é?
  9. Galego. Prova de que a divisão entre o galego e o português tem muito que se lhe diga e o Ethnologue acha que há zonas de Portugal, encostadas à fronteira, que falam galego pois a fronteira linguística entre Portugal e a Galiza é muito porosa. Muito mais do que alguns portugueses imaginam. 
  10. Asturiano. Da mesma forma, também não sei por que razão o Ethnologue põe o asturiano como língua de Portugal. Afinal, o asturiano tem um nome próprio por estas bandas: é o mirandês e ninguém se chateia com isso. Será que considera um dos dialectos do mirandês como «mirandês padrão» e outro, talvez o sendinense? como asturiano? Sim: o mirandês tem vários dialectos.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

SOBRE ALÍNGUA PORTUGUESA I


Sabiam que é possível ler poemas de Fernando Pessoa em mirandês?

Do seu livro "Mensagie", publicado em 2010.
L ANFANTE
Dius quer, l home sonha, la obra nace.
Dius quijo que la tierra fuera toda ua
Que l mar ounira, yá num apartasse
Sagrou-te, i fuste çcubrindo la scuma.
I la bonda blanca fui d ilha an cuntinente
Anclareou, fugindo, até la fin de l mundo
I briu-se la tierra anteira, derrepente,
Abrolhar, redonda, de l azul perfundo.
Quien te sagrou criou-te pertuês
Cumpliu-se l mar, i l Ampério se çfizo
Senhor, falta cumplir-se Portual!
O tradutor da obra chama-se Fracisco Niebro (pseudónimo de Amadeu Ferreira) falecido em 2015, era professor de português, tradutor, revisor e um dos grandes defensores do mirandês e, segundo Marco Neves o autor do livro "12 Segredos da Língua Portuguesa", deve tê-lo feito por puro prazer já que a "Mensagem" todos os falantes de mirandês podem lê-lo no original, em português.
Mas há outras revelações neste livro e que para além das curiosidades, sobre a língua portuguesa, me tem divertido imenso. Como exemplo a grande suposição de que "o galego é bem capaz de ser o pai da língua portuguesa"; como traduzir a palavra "saudade"; "os erros que não são erros" ou "que os palavrões fazem bem à saúde, mas convém não abusar".
Voltarei aos temas mais divertidos.
E, por agora, em mirandês me despeço:
Ber-se un eicelente dia!

terça-feira, 17 de novembro de 2020

TEMPTABIS LAPIDEM PRIMUS


Foi a 17 de Novembro de 1717 que EL REY DOM JOANNES V procedeu ao "temptabis lapidem primus" (lançamento da primeira pedra), promessa feita pela descendência que viesse a ter com a rainha D. Maria Ana de Áustria do PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA

Composto por um palácio e mosteiro monumental estilo barroco alemão de autoria do arquitecto mor do reino, João Frederico Ludovice, ocupa uma área aproximada de quatro hectares (37 790 m²). Construído em pedra lioz abundante na região é constituído por 1 200 divisões, 4 700 portas e janelas, 156 escadarias e 29 pátios e saguões. Demorou 36 anos a ser edificado.
Destinado à Ordem de São Francisco foi pensado numa fase inicial para 13 frades, foi sucessivamente alargado para 40, 80 e finalmente uma comunidade de 300 religiosos e tendo lhe sido acrescentado o palácio real.

Entre Junho e Dezembro de 1970 "habitei" no Convento não monge franciscano mas soldado cadete da Escola Prática de Infantaria. Não gostei muito!

Monumento Nacional declarado em 2019 Património Mundial da Humanidade pela UNESCO.
É tema da obra Memorial do Convento, de José Saramago.


Fiquem com uma pequeníssima visita à nave da Basílica

SALA DOS DESTINOS - No tecto, da autoria de Cirilo Volkmar Machado, está representado o "Templo do Destino", destacando-se a figura da Providência que entrega a D. Afonso Henriques o Livro dos Destinos da Pátria. 

SALA DO TRONO - Destinada às audiências régias. A pintura do tecto representa uma alegoria à "Lusitânia" e faz parte da campanha decorativa que Cirilo Volkmar Machado executou no Palácio a partir de 1796 por encomenda do Príncipe Regente, futuro rei D. João VI. Paredes decoradas com pinturas a fresco representando as oito Virtudes Reais, da autoria de Domingos Sequeira (1768-1837).

SALA AMARELA - Também conhecida por Sala da Música ou Sala de Recepção. A Família Real recebia aqui os seus convidados, substituindo a Sala de Audiências (do Torreão Norte) depois de D. Pedro V abolir o tradicional beija-mão real nas datas festivas. 

BIBLIOTECA - O maior tesouro de Mafra é a sua biblioteca, com chão em mármore, estantes em estilo rococó e uma coleção de mais de 40.000 livros com encadernações em couro gravadas a ouro, incluindo uma segunda edição de Os Lusíadas de Luís de Camões.Situada ao fundo do segundo piso é a estrela do palácio, rivalizando em grandiosidade com a Biblioteca da Abadia de Melk, na Áustria. Construida por Manuel Caetano de Sousa, tem 88 m de comprimento, 9.5 de largura e 13 de altura. O magnífico pavimento é revestido de mármore rosa, cinzento e branco. As estantes de madeira estilo rococó, situadas em duas filas laterais, separadas por um varandim contêm milhares de volumes encadernados em couro, testemunhando a extensão do conhecimento ocidental dos séculos XIV ao XIX. 

www.palaciomafra.gov.pt/pt-PT/biblioteca/ContentList.aspx

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O (MEU) SOLDADO (DES)CONHECIDO

 

A PRIMEIRA GRANDE GUERRA tinha acabado com11.000.000 de mortos.
Nunca foi possível dizer quantos feridos e desaparecidos.


No funeral do tio Amílcar apareceram cinco homens, ar solene, nas cabeças bivaques cinzentos com o número quatro em metal amarelo e duas espingardas cruzadas por baixo. Cumprimentaram a tia Eulália e foram perfilar-se em volta do caixão num recolhido silêncio.
Tinham estado com o tio na guerra. Reconheci um deles, por o ter visto lá em casa algumas vezes. Ele sorriu para mim.

A noite estava serena quando o cabo Amílcar saiu da trincheira, em missão de observação, com mais dois camaradas. Meia dúzia de quilómetros à frente, havia uma aldeia em poder dos alemães. Os três foram rastejando na lama acumulada pelo inverno flamengo, de buraco em buraco de obus, passaram silenciosamente as barreiras de arame farpado, evitaram as minas e já estavam perto da estrada que levava à tal aldeia quando tiveram de abrigar-se numa vala.
Uma chuva de ‘very lights’ fez da noite um clarão. Ouvia-se por perto vozes em tom alto e sons guturais que pareciam ordens. Na vala estava uma jovem com uma criança de colo. O cabo Amílcar e os dois camaradas quase lhes caíram em cima. Na aflição mútua, a mulher soltou um grito sufocado mas que o silêncio da noite ampliou. Uma coluna de alemães seguia a pé, pela estrada que ia dar à aldeia, a uns sessenta ou setenta metros. Houve um momento de hesitação mas depois, um grupo que vinha mais à frente começou a metralhar o local. Duas granadas de gás mostarda caíram na vala.
Desataram a correr. O tio Amílcar pegou na criança e, de imediato, colocou-lhe a sua máscara. Enquanto se serviam das máscaras para proteger a criança e a jovem atingida por um estilhaço numa perna era arrastada pelos dois companheiros gemendo de dor. Deve ter sido a hora mais longa da vida deles. Tinham salvo criança e jovem mãe mas ao tio Amílcar, o gás secara-lhe os pulmões e descompassara-lhe o coração. Para sempre.

A tia Eulália teve um enfarte, no Natal do ano passado. Ficou paralisada numa cadeira de rodas.
Os primos depositaram-na num lar em Alcabideche e lá ficou até ao dia da sua morte que foi hoje. Fui lá visitá-la várias vezes e levava-lhe os fidalgos, uns bolinhos de manteiga com uma cereja cristalizada fabricados na "Mimosa da Graça" de que a tia gostava de paixão.
Mas, nunca mais quis ver a casa. A Vivenda Maria Eulália foi morrendo como ela ia morrendo aos poucos naquele lar. Foram oito anos.
Meio destelhada, as janelas esventradas, vidros estilhaçados, azulejos verdes e brancos já incapazes de formarem o xadrez original, abrem feridas que sangram no negrume da fachada. A escadaria de degraus gastos, os anjos de pedra sem cabeça um e sem uma asa, o outro continuam teimosamente ajoelhados no bordo do pequeno lago seco que as silvas invadiram devoraram e treparam aos muretes do jardim até cobrirem a entrada da garagem,
Quando aqui vinha, com os meus pais, os anjos do lago eram perfeitos, seguravam tochas com flores e havia um jardim com tabuleiros de margaridas, miosótis, lilases, sálvias e troviscos, sinfonia de perfumes e de cores a que a tia Eulália dedicava a alma e o tempo.
O tio Amílcar assim que me via, alongava o braço, agitava a mão, a voz fraca, "anda cá, meu menino" e eu sentado ao seu lado, no cadeirão do quarto, a ouvir aventuras que não eram as dele mas que ele me contava como se fossem. Mas se lhe pedia que me contasse uma aventura da guerra dele, franzia-me o sobrolho "ora, não tem graça nenhuma…" e lá vinha um ataque de tosse.
Uma tarde muito quente de verão, um grito de angústia da tia que o foi encontrar sentado no cadeirão do escritório, braços abandonados quase a roçarem a carpete e os olhos esbugalhados e boca muito aberta num desesperado esforço para engolir ar.

No portão alto, em ferro pintado de verde gasto pelo tempo, fechado a cadeado, a placa ‘VENDE-SE, parece eternizar-se. Sinto um nó na garganta, "anda cá meu menino" parece que o oiço mais a tosse; o tio Amílcar que combatera na primeira guerra mundial e herói com medalha e tudo, não por ter matado gente mas por ter salvo uma jovem e o seu pequeno filho regressara da França com aquela tosse que o deixava em aflições lívidas, os dedos a repuxarem o casaco de pijama e a cara de enforcado que a doença ia deixando sem ar.

sábado, 17 de outubro de 2020

SOBRE UMA DATA DE COISAS QUE ME VÊM À CABEÇA, NO FIM DE UMA NOITE FRIA DE OUTONO,

 

Ainda bem que existem outros sonhos.
Outros risos.
Outras pessoas.
E outras coisas.
E, ainda bem que, todos os dias, os dias continuam a suceder às noites,
para que continuemos a tentar dar vida aos nossos sonhos.


Não gosto dos meus erros
mas também não quero prescindir daquilo que é ter uma certa liberdade de me enganar.
Quem nunca se enganou?
Quem pode dizê-lo de verdade?
Até os deuses se enganam...

Para determinadas pessoas eu posso mostrar, apenas, uma parte do que na realidade sou.
Não porque queira enganá-las, ou porque tenha receio.
Somente porque não vale mesmo a pena.

O beijo não é apenas uma manifestação de amor.
Pode ser também de traição, um delicioso truque que os sentidos criaram
para interromper a fala quando as palavras se tornam supérfluas ou não podem ser ditas.

Existem momentos na nossa vida em que as palavras perdem o sentido,
parecem inúteis e, por mais que se pense numa forma de empregá-las,
elas nunca irão ter significado.
Então não dizemos, apenas sentimos.

Pode demorar tempo mas um dia aprendemos a separar os diamantes do vidro
e a guardar realmente aquilo que nos enriquece o coração.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

OS TEMPLÁRIOS CONTINUAM VIVOS...

 

Em 16 de outubro de 1311 foi extinta a Ordem dos Templários ou dos Cavaleiros do Templo fundada dois séculos antes por Hugo de Payens e Godofredo de Saint-Omer, em 1906, durante a 1ª Cruzada com sede em Jerusalém.
Quem entrava para a Ordem dos Templários tinha de fazer um voto de pobreza e castidade, entregavam todos os seus bens e todo o dinheiro à organização que ganhou poder financeiro um tal prestígio na Europa, com cada vez mais membros e uma filosofia digna dos princípios mais cristãos.
A divisa da ordem foi retirada dos ensinamentos de São Bernardo: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas pela Glória de teu nome”.
Mas Filipe IV, o Belo, rei francês cuja coroa precisava do dinheiro dos templários a quem já tinha recorrido em empréstimos que não poderia pagar, começou a descobrir pouca pureza debaixo das armaduras e das capas brancas com a cruz de Cristo vermelha e depois persuadir o Papa Clemente V a acusar os cavaleiros dos crimes de heresia, imoralidade, sodomia e de manterem relações sexuais homossexuais entre eles, uma acusação particularmente humilhante no século XIV.
A tarefa não parecia fácil porque para o Vaticano era imprescindível manter a presença militar na Palestina e só o dinheiro e o poder dos Templários poderia consegui-lo.
No entanto, os boatos que circulavam sobre os templários já começavam a denegrir a imagem da própria Igreja e se Clemente V continuasse a defender a Ordem, também a sua imagem viria a ser arrastada pela lama
Assim, não foi capaz de suster o plano do rei e a gota de água que fez transbordar o copo foi quando Tiago de Molay, grão-mestre dos Templários, pediu ao Papa para o receber e perceber o que se passava para que tantos boatos corressem sobre os seus cavaleiros.
O Papa acedeu ao pedido de Molay, mas avisou o rei que sabia que, com o poder e prestígio que os Templários tinham conquistado, só a morte os arruinaria e assim pôs a circular por todo o reino uma carta com instruções claras só fosse aberta na noite de 13 de Outubro de 1307. Era sexta-feira!
Nessa noite Tiago de Molay foi capturado juntamente com a maior parte dos templários e todos os bens confiscados pela Inquisição.



De madrugada, já Filipe IV de França tinha emitido um comunicado onde sugeria que o papa Clemente V concordava com a morte dos Templários. Enfurecido, o Papa enviou dois cardeais para repreender o rei. Vieram de lá com um negócio: a Igreja ficava com parte dos bens dos Templários, mas o rei podia escolher a forma de julgar os cavaleiros. Escolheu então condená-los de acordo com o direito canónico, o mais pesado.
Os Templários foram sujeitos a torturas mais cruéis, alguns ficaram em prisão perpétua e outros foram queimados na fogueira, um castigo normalmente aplicado às bruxas e aos hereges.
Condenado à morte por fogo o próprio Tiago de Molay, perante o rei e todas as tropas do reino lançou uma maldição: “Deus sabe que nos trouxe para o limiar da morte com grande injustiça. Em breve virá uma enorme calamidade para aqueles que nos condenaram sem respeitar a verdadeira justiça. Deus irá retaliar a nossa morte”.
O rei Felipe IV viria a morrer com um derrame cerebral e, pouco depois, também o papa Clemente V faleceu. O povo levou a sério a ameaça de Molay e, a partir daquele dia, qualquer sexta-feira 13 era vista como um dia em que o azar podia bater à porta.
O medo espalhou-se pelo mundo inteiro com os relatos cada vez mais demoníacos associados a este dia.
Ao fim de 213 anos a defender o Reino de Jerusalém, os cavaleiros do Templo conheceram um fim sangrento mas nem todos.
Alguns conseguiram escapar e refugiaram-se em outras paragens, tal com em Portugal, 8 anos depois (1319) em Castro Marim e depois por Dornes e Tomar onde foi fundada a Ordem de Cristo, por alguns dos cavaleiros sobreviventes do massacre de 12 anos antes.