quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

ÚLTIMA HORA - REPORTAGEM CM

 

- Em directo do cemitério dos Prazeres, estamos a tentar perceber o que se passou aqui, esta madrugada, quando um indivíduo do sexo masculino foi enterrado tendo apenas por acompanhamento dois homens vestidos de negro e um outro com ar de fidalgo discretamente se retirou logo que o acto foi consumado. Tudo isto é estranho, não só devido às horas, eram quatro da manhã, e também pelo facto de não trazer ninguém de família ou amigo a acompanhar, a não ser os dois homens de negro e o tal outro que se manteve sempre afastado mais parecendo só confirmar o enterramento e não acompanhar. Mas, temos aqui ao nosso lado Sebastião Pazada que é o coveiro e que nos tem para dizer mais qualquer coisa.
- Sr. Sebastião Pazada, o senhor é aqui coveiro há quantos anos?
- Desde 3 de Outubro de 1610.
- Há 30 anos, portanto.
- Sim senhor...
- E lembra-se de alguma vez ter feito coisa semelhante à de ontem?
- Bem, vocemessê sabe, se sou coveiro nunca fiz outra coisa na vida.
- Bom! OK. Não era isso que queria dizer mas então conte-nos lá o que se passou aqui.
- Bem, os dois senhores que disseram que eram da justiça ou lá o que eram, chegaram aqui com o corpo já cadáver sem identificação na carroça do Manel Chiné, que por acaso costuma fazer serviços destes mas só pra quem não pode pagar o funeral, e disseram-me para o enterrar sem fazer perguntas.
- Então não sabe o que se passou antes? Mas o senhor disse-nos que...
- Calma lá qu'ainda não acabei. Vocêzes os da comunicação social são sempre uns apressados de merda qu' a gente ás vezes nem consegue expressar-se como deve ser.
- Desculpe senhor Sebastião... é que....é o tempo, sabe...
- Olhe, cá vai. Entretanto deixaram aqui o corpo e foram lá fora fazer não sei o quê e foi o Manel Chiné que me disse que tinha ido buscar o homem já cadáver a um casebre para os lados de Chelas e disseram que tinha sido levado para ali por um bando de ladrões depois de ter sido atirado da janela do Palácio da Ribeira com várias facadas no peito e no coração. Ele quando chegou aqui ainda vinha com a mesma roupa cheia de sangue seco, na camisa, no gibão, nos calções...
-Ah! Então foi algum crime?
- Não sei não senhor. Um amigo que é criado da senhora duquesa de Mântua, aquela que é a dona disto tudo quando não está cá o Filipe, espanhol, diz que ouviu grandes ralhos, um enorme reboliço logo de manhã e pode ter sido assalto ou violência doméstica...
- Bem, senhor Sebastião, obrigado pelas suas declarações dizem-me do estúdio que o colega João Meças Curioso tem informações noutro local de reportagem. A transmissão para ti, João!!!
- Obrigado Zétó. Estamos aqui junto ao Paço da Ribeira, precisamente por debaixo da janela da biblioteca que pudemos saber ser a tal janela de onde foi atirado o homem com a faca já espetada no peito. Estamos junto a um dos seguranças que pertence ao corpo privado da senhora duquesa de Mântua e que diz ter visto tudo o que se passou aqui, ontem à tarde. Diga-nos senhor Juanito Peras, é esse o seu nome, não é verdade(?) que se passou aqui ontem à tarde?
- Bien, coño hombre, que miedo. Entraran por aí uns hidalgos de armas na mão y me fué dito pra cerrar los ojos y me quedar num canto que nadie más; Y coño, cuando por aí desataran a los tiros e espadêradas contra los guardas, coño, estaban furiosos y como la duquesa se fuera à Madri, fuéran en busca d'el secretário Vasconcelos y lo hoderan con una puñalada en el pecho e lo jugaran por la ventana...
- E, então, houve mais ...?
- Después, se bieran otros hombres de mantillas neras e lo levaran no lo sei, pero um deles era Manel Chiné y su carro à caballos, quelieva para el cementério que és de los Plazeres, me parece.
- Muito bem. Então e agora?
- Ahora, la duquesa se fué y lo digan que no vuelve más e assi me quedo desempleado....és una mierda! Pero no me vô quedar assi, sinmás nada... mañana conseguiré el subsdio!
- Então boa sorte. E é tudo aqui do Paço da Ribeira. passo a emissão para o estúdio.
- Obrigado aos dois. Continuando para dizer que foi então encontrado morto, ontem ao fim da manhã, junto a uma janela do primeiro andar do Paço da Ribeira, o homem que aparentava ter entre os 40 e 50 anos, vestia um colete de veludo com bordados a ouro e calções aos gomos 'collants' de lã verdes e só tinha calçado um sapato de verniz preto e fivela dourada. Tinha um punhal espetado no peito e os colarinhos do gibão e o rosto e pescoço muito ensanguentados. Por averiguar ficou o facto de não se poder saber se se terá espetado ao cair ou se já vinha espetado quando saiu pela janela. Ignora-se o motivo de saída funesta já que a escadaria do palácio estava em perfeitas condições para uma saída em segurança! Voltaremos com mais desenvolvimentos. Continuação de uma excelente dia!