sábado, 11 de dezembro de 2010

Manoel de Oliveira completa hoje 102 anos

Realizador mais velho do mundo em actividade, Manoel de Oliveira provém de uma família da alta burguesia nortenha, filho de Francisco José de Oliveira, primeiro fabricante de lâmpadas em Portugal, e de Cândida Ferreira Pinto.
Ainda jovem foi para La Guarda, na Galiza, onde frequentou um colégio de jesuítas mas admite ter sido sempre um mau aluno. Dedicou-se ao atletismo, tendo sido campeão nacional de salto à vara, pelo Sport Club do Porto, um clube de elite. Depois foi o automobilismo e a vida boémia sendo um habitual das tertúlias no café Dina, na Póvoa do Varzim, com os amigos José Régio, Agustina Bessa-luís e outros.
Em 1928, entra para a escola de actores fundada no Porto por Lupo, o cineasta italiano ali radicado, e um dos pioneiros do cinema português. Berlim: sinfonia de uma cidade, documentário vanguardista de Rutmann, influência-o profundamente. A curta-metragem sobre a faina no Rio Douro — Douro, Faina Fluvial foi o seu primeiro filme, em 1931, o qual suscitou a admiração da crítica estrangeira e o desagrado dos críticos nacionais. Seria o primeiro documentário de muitos de cariz etnográfico.
Adquiriu entretanto alguma formação técnica nos estúdios alemães da Kodak e participou como actor no segundo filme sonoro português, A Canção de Lisboa, de Cotinelli Telmo, vindo a dizer, mais tarde, não se identificar com aquele estilo de cinema popular.
Apenas em 1942, se aventuraria na ficção como realizador: adaptado do conto Os Meninos Milionários, de Rodrigues de Freitas, filma Aniki Bobó, um enternecedor retrato da infância no cru ambiente neo-realista da Ribeira do Porto. O filme foi um fracasso comercial, mas com o tempo daria que falar. Oliveira decidiu, talvez por isso, abandonar outros projectos, envolvendo-se nos negócios da família. Só voltaria ao cinema catorze anos depois, com O Pintor e a Cidade, em 1956.
Em 1963, com O Acto da Primavera e a Caça, obras marcantes na sua carreira, filmes representativos enquanto incursões no documentário, trabalhados com técnicas de encenação, conheceram a supressão de cenas por parte da censura. Por causa de alguns diálogos no filme passou vinte dias de cadeia na PIDE.
A sua obra cinematográfica, até então interrompida por pausas e projectos não-realizados, só em 1971 com O Passado e o Presente, prosseguiria até ao final do século. A teatralidade de O Acto da Primavera, é recuperada como estilo pessoal e forma de expressão que irá marca os filmes, apoiado em reflexões teóricas de amigos e conhecidos comentadores. Insiste que só cria filmes pelo gozo de os fazer, independente da crítica. 
Apesar de inúmeros prémios e galardões conseguidos em alguns dos festivais mais prestigiados do mundo, como Cannes, Veneza e Montreal leva uma vida retirada e longe das luzes da ribalta. Os actores preferidos, com quem mantém uma colaboração regular são Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira, Rogério Samora, Miguel Guilherme, Isabel Ruth e, mais recentemente, o seu neto, Ricardo Trepa e as participações de actores estrangeiros, como Catherine Deneuve, Marcello Mastroiani, Michel Piccoli, Irene Papas e Lima Duarte.
Em 2008, ao completar 100 anos, foi condecorado pelo Presidente da República e homenageado com a produção de um documentário sobre a sua vida e obra. Dotado de uma resistência física e saúde mental ímpares, continua a manter planos futuros.

Prémios e galardões

  • Professor honorário da Academia de Skopje (Macedónia), desde 2007.
  • Recebeu em 2008, o prémio mundial do Humanismo e o grau Honoris Causa pela Universidade do Algarve.
  • Em 2009 recebeu nos XIV Globos de Ouro da SIC, o prémio de prestigio e de homenagem.

Longas-metragens

Curtas e médias metragens

Como actor 
  • 1994 - Lisbon Story, de Wim Wenders; 1980 - Conversa Acabada, de João Botelho; 1933 - A Canção de Lisboa, de Cotinelli Telmo; 1928 - Fátima Milagrosa, de Rino Lupo.
Como supervisor e outros 
  • 1970 - Sever do Vouga… Uma Experiência, de Paulo Rocha; 1966 - A Propósito da Inauguração de Uma Estátua - Porto 1100 Anos, de Artur Moura, Albino Baganha e António Lopes Fernandes
  • 1937 - Os Últimos Temporais: Cheias do Tejo (documentário); 1958 - O Coração (documentário); 1964 - Villa Verdinho: Uma Aldeia Transmontana (documentário); 1987 - Mon Cas; 1987 - A Propósito da Bandeira Nacional; 2002 - Momento; 2005 - Do Visível ao Invisível; 2006 - O Improvável não é Impossível