quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A MENINA DO PAPEL SELADO

Contava o meu pai, uma estória que se passara com a filha de um operário da fábrica.
No dia em que ia completar os quinze anos, caiu por uma escada em casa de uma tia e de tal sorte aterrou em temerária espargata que quando a tia a foi socorrer, em sobressaltos, para além das leves escoriações no braços e nos joelhos, logo foi notado o que parecia mais grave: a menina tinha o vestido e a calcinha com uma manchita de sangue. 
Levada ao médico, chegou este ao diagnóstico temido. 
A menina em consequência do esforço, rompera o hímen...
Uma coisa destas, em mil novecentos e quarenta e tais fazia mesmo muita diferença para uma donzela quando chegasse à idade casadoira.  
Perante o drama que se adivinhava, quando ao futuro noivo tivesse de contar a maneira insólita como perdera da virgindade e esperar que ele acreditasse na história, um advogado amigo opinou uma saída airosa para a inconveniência.
Que se arranjassem duas testemunhas e se lavrasse documento notarial a atestar que a menina perdera a virgindade em resultado de um acidente - descrevendo-se exactamente o evento, data e hora - e não de qualquer acto que pudesse manchar a honra sua e de seus pais. 
Assim se fez! 
Só que, anos depois, ainda solteira, quando a menina já mulher foi trabalhar para a fábrica onde seu pai já entretanto promovido a encarregado teria contado a uns colegas o acontecimento e eles com aquela maldade própria de quem é capaz de troçar dos problemas alheios, passaram a chamar-lhe: "A menina do papel selado"..