sábado, 24 de julho de 2021

A FÉ DOS HOMENS

 

Há algo de estranho neste éter pejado de deuses, desde que o homem é homem.

Huitzilopochtli, Tezcatlipoca e Xipe-Totec, a trindade Azteca adorada por supostamente proteger a vida dos seus súbditos está zangada?

Osíris, Ísis e Hórus, há mais de três milénios presentes, viraram-nos as costas?

O deus babilónico Marduk ou os fenícios Baal e Melcart que geriam a vida e a morte nas duas grandes cidades de Sído e Tiro ou será o assírio Assur que resolverou regressar para punir os povos.

Ou talvez o gigante taoista Panghu, de onde saímos, parasitas de um corpo há mais de cinco mil anos, que se cansou de ser hospedeiro de vermes peçonhentos, como nós?

Ou foram Tzansmi e Tzanagui os deuses nipónicos da criação que expulsaram Amaterasu, deus da claridade e da razão, condenando o mundo às trevas?

Será Tuatha Dé Danann, a deusa Celta tão alegre que só quer dançar "sapateado" no grupo dos seus dançarinos se desencantou e nos corre à biqueirada?

Talvez a tríade galesa, Trioedd, Ynys e Prydein, de fama tão imaculada na protecção das verdejantes ilhas que se cansou.

Estava a esquecer-me dos nórdicos perante os seus poderosos Thor (deus do trovão), Odin (deus da guerra) e Hel (deusa dos gelos), Njord (protector dos viajantes e navegadores) ou a deusa de Niflheim, a figura de feições sombrias viva da cintura para cima e morta da cintura para baixo que guarda a terra dos mortos. Serão estes responsáveis pelo caos?

Uma guerra qualquer no Olimpo de que nós insignificantes mortais só percebemos pelos sinais de certa violência doméstica que se ouve cá em baixo. Zeus (o grande senhor do Universo), Poseidon (dos mares e das águas), Ares (filho de Zeus e deus da guerra), Apolo (deus do Sol e da beleza) ou Hermes (o mensageiro) que não se entendem? 

Ou serão Júpiter e Marte, numa inevitável discussão que Minerva (deusa da inteligência e sabedoria) e Juno (rainha do céu, esposa de Júpiter) não conseguem aplacar?

Ou será que Brahma o deus criador do cosmos e todos os seres vivos, primeiro da Trindade Hindu está de candeias às avessas com os seus dois pares na trindade, Vishnu o deus da preservação e Shiva, o oposto deus da morte e da destruição e Shiva está a ganhar?

Talvez esteja a misturar demasiado as coisas porque de há dois mil anos a esta parte a alguém se lembrou que afinal muitos deuses geram confusão e seria preferível dar lugar a um único Deus, Senhor dos Céus e da Terra; já havia um, Jeová deus hebreu que ganhara fana de vingativo e castigador, pois então havia que mudar e foi um achado dar-lhe uma face de pai protector, benevolente e redentor, o que parece ter surtido efeito, pois ganhou rapidamente adeptos e tanto que cerca de quinhentos e setenta anos depois, descobrisse Alá, que para árabes e muitos outros povos orientais e africanos foi sendo uma espécie de "irmão" oriental do Deus dos ocidentes. 

E aqui chegados, defrontamo-nos com uma realidade "nascida" no mesmo sítio e com tanta coisa parecida que haverá quem julgue que tudo poderia ficar mais harmonioso.

Pura ilusão!


Mas, afinal, no meio de todas estas guerras um pouco por todo o lado, pelo meio de todos os desastres climáticos e catástrofes que aniquilam os mais fracos entre nós, ao empurrão de pandemias, epidemias, pestes e outras calamidades que matam milhões e milhões todos os anos, por entre muitas e muitas outras coisas que acontecem entre nós, cada vez com mais frequência e com mais violência.

Pobres terráqueos abandonados à (pouca) sorte de seres simplesmente mortais, apenas "topos de gama" de uma cadeia com muitos milhares de milhões de anos de espécies de onde viemos e agora nos julgamos arrogantemente mais evoluídos, mais inteligentes, mais poderosos, e mais tão tudo que somos capazes de destruir os outros todos que nos acompanham e "at the end" de nos destruirmos a nós próprios.

O que é manifestamente frustrante!