terça-feira, 19 de abril de 2011

A TROIKA

A loura de olhos azuis flamejantes escondidos nos óculos de sol, fato escuro, um ar de executiva de pasta negra na mão, esta troika combina o fascínio das nórdicas com a imponência das alemãs, passo pausado e seguro quando sai do BMW negro de matrícula diplomática, na baixa lisboeta, seja à porta do ministério das finanças ao encontro de quem a chamou ou não hesita em visitar quem quiser ter um encontro com ela, seja partido, união sindical ou confederação patronal é a troika. Jornalistas para já, não! 
Porque a troika não gosta de entrevistas principalmente quando esta gente coloca questões difíceis e tem a mania de antecipar respostas. Afinal, sabe-se linda e desejada mas gostará primeiro de conhecer bem com quem vai viver em união de facto nos próximos quatro ou cinco anos.
A experiência já lhe ditou que depois de ter ido para a cama com gregos e irlandeses é preciso ter mais cuidado ainda com este pretendente, pois os outros dois já lhe deitaram abaixo metade da fortuna e este é tido por ter uma grande lata, já andou nos braços da Angela Merkel e aos beijinhos ao Silvio Berlusconi e fartou-se de dizer (e ainda diz) mal dela apesar de lhe pedir que venha, numa lamúria de romântico incorrigível, sem disfarçar que é um namoradeiro mentiroso e interesseiro, capaz de dar cabo de qualquer fortuna por maior que seja. A troika, no entanto, veio logo, sem parecer incomodada e, pelo contrário, como quem estivesse já à espera que este esbanjador, sem cura nem remédio, mais tarde ou mais cedo a chamasse. A troika pode ser loura mas, não é parva, como teima aquela convicção certamente criada por alguma morena despeitada! Contas feitas, ela sabe que vai acabar por ganhar dinheiro com este ‘raide’ a Lisboa.
Hoje, logo que saiu do hotel, duchezinho matinal e pequeno-almoço no bucho, cheirosa no seu ‘Desire me’ de Escada, foi abordada por um jornalista mais afoito e, finalmente, descoseu um palpite, numa vozinha suave, num inglês carregado de sotaque. Que só falaria para os jornalistas depois de ouvir tudo o que tinha de ouvir e de ver os livros de contabilidade. Tudo muito bem ouvido e sobretudo visto. Lá para sexta-feira, adiantou já em despedida sinalizada pelo movimento da mãozinha branca com dedos longos de pianista, num aceno para três dias.
Mas, a comunicação social não se dá por vencida. Apaixonou-se pela troika, está visto. Fica de pé, horas a fio, à porta de onde quer que a troika esteja, olhando numa ansiedade embevecida, um sinal, um suspiro.
Eu, sinceramente, já estou farto desta história de ter cá uma ricaça que suposto, vir dar uma ajuda mas que apenas veio para salvar os outros ricaços todos de um bando que continua a especular com a desgraça alheia.
Porque, bem vistas as coisas, foram os ricaços deste mesmo bando de abutres que agora nos quer bicar as entranhas que, há uns tempos a esta parte nos oferecia todo o dinheiro do mundo a taxa zero. Se íamos comprar uma casa ou um apartamento, ofereciam-nos mais do que pedíamos para comprarmos também um carrito, os electrodomésticos ou mesmo a mobília da sala ou do quarto. Depois, punham-nos nas mãos cartões de crédito para gastarmos à vontade e se tínhamos problemas, diziam-nos para não nos preocuparmos porque abriam-nos uma conta ordenado e assim podíamos começar a gastar em Janeiro o que o patrão nos pagasse lá para Fevereiro ou Março. Para maior facilidade, se não podíamos pagar a trinta anos, alargava-se o prazo, para trinta e cinco ou mesmo quarenta anos. É claro que isto exigia algumas cautelas. Juntavam-se uns seguros de prémios mais ou menos elevados, por doença, por morte, por desemprego, por tudo e por nada.

É claro que esta sedutora que se encontra entre nós, não tem nada a ver com isto! Não tem? Bem, suspeito que sim, que tem e é pena que tenha porque lhe tira o encanto todo e o que apetece mesmo é correr com ela, Mas, isto digo eu, que não estou apaixonado.