quarta-feira, 4 de maio de 2011

O que ele comunicou...

Impostos e subsídio de desemprego: o que aí vem
O primeiro-ministro demissionário preencheu o intervalo do jogo da segunda mão das meias-finais da Liga dos Campeões entre o Barcelona e o Real Madrid que supostamente estaria a ser seguido por largos milhares de portugueses, para comunicar as linhas gerais do acordo com a troika. A seu lado, apareceu após ausência prolongada, o ministro das finanças com ar fechado e cara de poucos amigos. Entrou mudo e saiu calado e também não deve ter-lhe sido pedida (ou permitida) qualquer intervenção. Esteve ali, especado, apenas para que nós não nos esqueçamos do homem que ajudou o primeiro-ministro a levar-nos ao ponto a que chegámos.
O primeiro-ministro demissionário não perde oportunidade de não deixar por mãos alheias os seus dotes de vendedor de maus produtos como se fossem topos de gama. Fica-lhe bem continuar assim porque, afinal, trata-se da única coisa que sabe fazer. Ser um bom vendedor.
Tratou-se de mais um acto de propaganda destinado a fazer crer que o governo teria obtido um grande acordo após semanas de patrióticas negociações e competentes resultados. Ao fim e ao cabo, mais uma mistificação da realidade e um insulto aos portugueses que vão sofrer nos próximos quatro ou cinco anos, principalmente aqueles que menos contribuíram para o actual estado da coisa pública.
Pelo primeiro-ministro demissionário ficamos a saber o que não vai acontecer. Curiosamente, tudo o que não vai acontecer será precisamente tudo o que a comunicação social, não se sabe sob que fontes, tinha vindo a encher as páginas dos jornais e as aberturas dos telejornais, nas últimas semanas. 
Compreende-se, pois, o ar triunfalista do primeiro-ministro demissionário. 
Ele que é conhecido por ser mentiroso, veio denunciar as mentiras dos jornalistas. 
Não haverá corte no décimo terceiro e décimo quarto meses, nem sequer a troco de títulos de dívida; não haverá corte nas pensões acima dos seiscentos e seis euros mas apenas acima dos mil e quinhentos euros, conforme previa o PEC IV; não vai haver despedimentos na função pública; não haverá despedimentos sem justa causa. Para além disto, o primeiro-ministro quis convencer-nos de que o governo tinha forçado a troika a suavizar a cadência de redução dos défices.
Dito o que não ia acontecer, percebeu-se que o que vai acontecer não era para ali chamado porque as coisas devem ser entendidas assim: aquilo não foi uma comunicação ao país sobre o acordo com a troika foi mais um acto eleitoral destinado a mandar poeira para os olhos dos ingénuos, dos incautos, dos temerosos porque para os penitentes, para os incondicionais e para os crentes não é necessário mentir mais.
Como não seria permitido fazer quaisquer perguntas, voltámos à segunda parte do jogo, que acabou empatado e com a eliminação do Real.