quarta-feira, 23 de outubro de 2013

MINI ROTEIRO PELAS MARGENS DO ALQUEVA

Uma inundação imensa com mais de mil quilómetros de perímetro, 250 kms2 de superfície que alaga seis concelhos desde o de Alandroal a norte até Moura na ponta mais ao sul, ladeado pelos de Reguengos, Portel, Vidigueira e mesmo encostado a Espanha, Mourão e se constitui como uma reserva estratégica de água que possibilita o abastecimento a uma população de cerca de 200 mil pessoas.


O Alqueva é o maior lago artificial da Europa e já modificou quilómetros e quilómetros quadrados de cenário, que passou a ser mais verde, com mais sombras na paisagem de extensos olivais e grandes grupos de animais, porco preto e gado bovino, em propriedades cercadas, com portão de ferro artístico na beira da estrada e casarão branco e amarelo bem ao fundo, a encimar a colina. 

Dez anos depois de ter ido a Monsaraz foi esse o local que elegi para admirar a 'nova' paisagem e das muralhas da fortaleza lá no alto do monte, avista-se soberba. Aquilo que era terra amarela salpicada de árvores e pequenas casas dispersas é agora um imenso mar com pequenas ilhas arborizadas, pelo menos duas marinas, uma delas com os barcos-casas que podem ser alugados para navegações de dois ou mais dias e a estrada elevada até Mourão que agora parece estar numa enseada em cerca de 7 kms de obra de arte a lembrar a ponte Vasco da Gama quando o tabuleiro mais se aproxima da água. A anteceder a vila, está 'reposta' a Aldeia da Luz, já que a original que se avistava de Monsaraz, se encontra mergulhada num abismo aquático. 

Indispensável conhecer as pequenas cidades acolhedoras e vilas alegres Reguengos de Monsaraz, Mourão, Moura, Portel, Vidigueira, Viana do Alentejo. E, ainda, uma volta por Barrancos, o único local onde é permitida a tourada com morte do touro (lembram-se da polémica?). Mas, percebe-se! A terra é pequena, mal se dão dois passos está-se em Espanha e com as festas, uma vez por ano, está tudo dito! 


Já que chegara até aqui, afoitei-me até Noudar. 12 kms de estrada que nunca mais acaba, em terra batida e com aquela pedrinha que salta e se desprende dos pneus e se ouve a bater na chapa e nos guarda lamas do carro. 
Sem ar condicionado na viatura e com calor prepare-se porque a poeira não o deixará abrir os vidros. 
Mas, Noudar tem castelo! Fortaleza de várias épocas ao que se diz começou a ser construída no reinado de Afonso III para defesa das populações em volta dos ataques dos mouros e depois nas quase permanentes escaramuças com os espanhóis, até ao século XVIII.  


Em Viana do Alentejo, pare! A Igreja Matriz merece. 
Embora se encontre parcialmente encoberta pela muralha sul do castelo, a sua imponência ressalta nas altas torres sineiras debroadas a dourado e na disposição simétrica dos arcos. As janelas conferem-lhe um ar de paço episcopal sem lhe retirarem a beleza e a singularidade. Uma mancha branca que se descobre na aproximação à cidade pelo lado de Alvito.





Mourão tem castelo! 

Mas, tem também a menos de 10 Kms a fronteira e uma pequena localidade - Villanueva del Fresno - onde se presta homenagem ao general Humberto Delgado. 
No tempo em que o seu nome nem podia ser pronunciado, o povo português foi erigir um modesto mas significante monumento da autoria do escultor José Rodrigues, lembrando a sua morte e a de sua secretária, atraídos a um encontro armadilha, pela PIDE de Salazar, a 13 de Fevereiro de 1965. 
Apenas, por isso, vale a pena dar um saltinho a Villanueva del Fresno.


Moura com a zona histórica fechada ao trânsito, as ruas embora estreitas, ganharam dimensão.
O Jardim público está limpo e cuidado, mantendo uma permanente e muito conveniente zona de frescura e de sombra, especialmente para os escaldantes dias de Verão, isto clro está para quem não desejar desfrutar das águas do Alqueva, ali a duas rodadas de automóvel.  
Quando o interior se torna litoral, as mudanças acontecem.




Perto de Vidigueira, mais propriamente em Vale de Frades, sai-se no cruzamento que diz Ruínas Romanas de S. Cucufate. Sem hesitações. vale a pena. É uma visita ao passado com história, desde que estas terras faziam parte da Bética com a capital em Mérida. Coisas dos romanos. Por aqui, as instalações eram para o tempo um verdadeiro luxo. Um verdadeiro palácio com três andares o que é raro ver-se nas construções romanas da península, salões para as orgias e inúmeros quartos com zona para banhos quentes e tépidos e uma enorme piscina exterior para frios.
Está ainda grande parte em reconstrução mas já dá para perceber que era gente abastada que ali vivia. É claro que também havia os outros, os pobres e os escravos mas, esses, tinham casebres de piso único e chão de terra, espalhados pelas redondezas. Gostei, sobretudo pelo cuidado com que se está a tratar estes vestígios de civilização numa altura em que o dinheiro não abunda para o essencial quanto mais para estes 'devaneios' culturais... (digo eu, ironicamente é claro!).

Muito mais haveria para dizer sobre terras tão belas. 


Ruas e largos sempre limpos e cheios da luz reflectida por fachadas baixas e imaculadas, molduradas em barras de azul ou amarelo, nas janelas e nas portas. Corolas multicolores alinhadas nos canteiros dos jardins ou a espreitarem nas floreiras das casas, um pouco todo o lado. As estradas de ligação, nacionais e municipais, de manutenção quase irrepreensível, sem buracos e bermas tratadas. 'Comadris' e 'compadris' mesmo desconhecidos nos parecem familiares tal é a simpatia das gentes e o gosto em agradar. 
E, 'at last but not least', os comeres! A magnífica sopa de cassão ou os secretos de porco preto. As açordas e as migas. Uma orgia de sabores e de aromas que as ervas dão um 'arranjo' magnífico.


E, quando saímos de Alcácer, no regresso a Lisboa, já pelas sete da tarde pela A2, é já uma imensa saudade com nos diz o poeta: "Alentejo da minh' alma, tão longe me vais ficando!"
    

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

"O POLVO" E A OPERAÇÃO IPO


O caso IPO/Duarte Lima,  em que Isaltino poderia ter sido peça fundamental, nem foi sequer  abordado durante o Inquérito Parlamentar sobre o BPN ,  inquérito a que o PSD se opôs então com unhas e dentes, como é  sabido. 
A táctica escolhida pelo 'polvo  laranja' foi  desencadear um inquérito parlamentar para averiguar se Sócrates estava ou não a «asfixiar»  comunicação social! 
Ruído, apenas, para abafar o caso BPN e  desviar as atenções.Mas é interessante examinar  como é que o negócio IPO/Lima foi por água abaixo.
Enquanto Lima filho, Raposo e Cia. criavam um fundo com  dezenas de milhões, amigavelmente cedidos pelo BPN de Oliveira  e Costa, Isaltino pressionava o governo para deslocar o IPO  para uns terrenos em Barcarena, concelho de Oeiras.   

Isaltino comprometia-se a comprar os terrenos com dinheiro da autarquia e a  «cedê-los generosamente» ao Estado para lá construir o IPO. 
Fazia muito jeito que fosse o município de Oeiras a comprar os  terrenos e não o ministério da Saúde, porque assim o preço  podia s ajustado entre os amigos vendedores e compradores,  quiçá com umas comissões a transferir para a Suíça.
Duarte Lima tinha sido vogal da comissão de ética (!) do IPO  entre 2002 e 2005, estava bem dentro de todos os assuntos e  tinha ótimas relações para propiciar o negócio. 

Além disso,  construiu a imagem de homem que venceu o cancro, história  lacrimosa com que apagava misérias anteriores. O filho e o  companheiro do PSD Vítor Raposo eram os escolhidos para dar o  nome, pois ao Lima pai não convinha que o seu nome figurasse  como interessado no negócio.
Em Junho de 2007  Isaltino dizia ainda que as negociações para a compra dos  terrenos em causa estavam "em fase de conclusão" (só não disse  nunca foi a quem os ia comprar, claro) e pressionava o  ministro da Saúde: "Se se der uma mudança de opinião do  governo, o cancelamento do projecto não será da  responsabilidade do município de Oeiras."
Como  assim, "mudança de opinião do governo"?
Na verdade,  Correia de Campos apenas dissera à Lusa que o governo encarava  a transferência do IPO para fora da Praça de Espanha e que  estava a procurar um terreno, em Lisboa ou fora da cidade,  para esse efeito. Nenhuma decisão tinha sido tomada, nem nunca  o seria antes das eleições para a Câmara de Lisboa, que iam realizar-se pouco depois.
Porém, a Câmara  de Lisboa, cuja presidência foi conquistada por António Costa,  anunciou que ia disponibilizar um terreno municipal para a  construção do novo IPO no Parque da Bela Vista Sul, em Chelas, Lisboa e assim se lixou o projecto Lima-Isaltino. Com Santana à frente da autarquia e um ministro da  Saúde do PSD teria tudo sido  muito diferente. E Duarte Lima talvez tivesse uma estátua no Parque dos Poetas do  amigo Isaltino.
Sabemos como, alguns meses depois  deste desfecho, o ministro Correia de Campos foi atacado por  Cavaco no discurso presidencial de Ano Novo, em 1 de Janeiro  de 2008, o mesmo que hoje diz à comunicação social que não se pronuncia sobre monistros que são da responsabilidade do primeiro ministro. Que Cavaco queria a pele de Correia de  Campos, foi bem visível. Ele foi a causa do fracasso do  projeto do IPO/Oeiras e dos prejuízos causados ao clan do seu  amigo Duarte Lima e ao polvo laranja.
É bem possível que essa tenha sido  a razão.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

ESTOU APENAS A MEDITAR...


Em 2011, estavam inscritos 9.624.354 eleitores e votaram 5.585.254. Taxa de abstenção de 41,97 por cento.

Registaram-se 148.638 votos brancos (2,66 %) e 79.399 nulos (1,42 %).

PSD venceu com 38,66 %, correspondente a 2.159.181 votos (108 deputados). 
PS obteve 1.566.347 votos, que correspondem a 28,04 % (74 deputados).
CDS-PP conquistou 11,71%, alcançando 653.888 votos (24 deputados).
PCP obteve 441.147 votos, correspondentes a 7,90 % (16 deputados).
BE teve 288.923 votos ou seja 5,17%, (8 deputados).
O governo legitima-se com uma diferença de 151.687 votos validamente expressos ou seja PSD+CDS (2.813.069) contra PS+CDU+BE (2.661.382) ou seja, uma diferença que corresponde a 1,57% do eleitorado.
Considerando que nos 2.813.069 votos (apenas 29,22% do eleitorado) que permitiram ao PSD e CDS formarem governo, já haverá uma larga percentagem de enganados e arrependidos e ainda estamos a pouco mais de meia legislatura, é forçoso pensar que a base de apoio ao governo estará de tal forma reduzida que o número de votos alcançados nas autárquicas pelos PSD e CDS, cada um por si ou em coligação, deve aproximar-se da realidade.
E que realidade?
A realidade é que PSD+CDS+MPT+PPM = 1.689.943 votos nas autárquicas.
Ou seja: os partidos do governo perderam 1.163.136 votos, ou seja 41,3% do seu eleitorado; ora considerando que netas eleições autárquicas o número de eleitores era de 9.547.315 e a abstenção foi de 47,41%, votaram 5.121.887 ou seja menos 386.728 já retirados os 77.039 de diferença de eleitores inscritos entre as duas eleições.

Feitas as contas e depois de ouvirmos o que ouvimos, no domingo ainda longe dos resultados estarem apurados, do primeiro ministro, proponho que façam a seguinte reflexão: 
QUE LEGITIMIDADE TEM ESTE GOVERNO PARA CONTINUAR A IMPOR AS MEDIDAS MAIS GRAVOSAS QUE O PROPRIO PACTO QUE ASSINOU LHE EXIGEM TENDO UMA BASE DE APOIO QUE NAO DEVERÁ ULTRAPASSAR ACTUALMENTE CHEGAR AOS 18% DO ELEITORADO. 

A democracia tem destas coisas!