quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O fim do PREC



O PREC- Processo Revolucionário em Curso designa, em sentido lato, o período de acções revolucionárias que ocorreram entre 25 de Abril de 1974 e Abril de 1976 com a aprovação da Constituição Portuguesa embora seja, igualmente, utilizado para marcar o período crítico do chamado 'Verão quente' que culmina com os acontecimentos do dia 25 de Novembro de 1975.

A acção do partido comunista, alguns quadros militares e grupos de extrema esquerda que, por entre efervescente agitação popular e alguma desordem social, conduziam o processo político-militar do pós 25 de Abril e apesar da contenda ideológica em torno dos ideais de Abril defendiam que só uma 'justiça social absoluta' poderia levar Portugal «rumo ao socialismo».
A par de ocupações de terras e casas abandonadas, da designada Reforma Agrária, de medidas importantes como o estabelecimento do salário mínimo, o processo levaria ao desmantelamento de grupos económicos ligados ao regime deposto, entre os quais a CUF, à nacionalização de empresas consideradas de interesse público na banca, seguros, transportes, comunicações, siderurgia, cimento, indústrias químicas e celulose. Fez-se «saneamentos» no aparelho do Estado e nos meios de comunicação, com vista a afastar elementos indesejáveis do velho regime, substituindo-os por quadros progressistas. Houve-os de vários quadrantes, sendo que o PCP, como partido mais organizado, beneficiou em número de cargos tornando-se no partido do poder.
A Fonte Luminosa na Alameda Afonso Henriques, em Lisboa é palco, em 19 de Julho de 1975, para a primeira grande manifestação a que assiste uma imensa multidão e a que se segue o comício do PS, na Praça Humberto Delgado no Porto, a 14 de Agosto, onde Soares e Zenha se erguem contra o 'perigo comunista'. Ali mesmo ao lado e à mesma hora, numa praça contígua à Rua Sá da Bandeira, é atacada por manifestantes, a tiros de pistola e cocktails molotov, a sede do partido de esquerda UDP. Imagens dos assaltos ao Consulado de Espanha da Rua do Salitre, na noite de 26 Setembro e, a 27, à embaixada da Praça de Espanha durante uma manifestação da UDP, à mistura com outros manifestantes, em protesto pela execução de activistas bascos, é a primeira notícia a ir para o ar nos Estados Unidos através da CBS TV, na noite de 29 de Setembro. Várias sedes locais do PCP são atacadas e incendiadas por populares, um pouco por todo o país mas, em especial, nas regiões do norte. O país está à beira da guerra civil. Vivem-se dias de incerteza. Chegam a ser distribuídas armas a civis e a militantes de partidos de esquerda.

A saída das forças militares dos Comandos da Amadora chefiadas por Jaime Neves, no dia 25 de Novembro de 1975, travará o processo. O carismático líder da Revolução dos Cravos, major Otelo Saraiva de Carvalho, comandante do COPCON e que não deseja confrontos, cede. O PCP, que bem conhece os limites do seu poder, decide não intervir. Isolados, os outros partidos da esquerda manifestam-se, mas por pouco tempo. O RALIS na Portela de Sacavém e Lanceiros 2 na Calçada da Ajuda, onde se aquartelavam as forças defensoras do PREC, caiem sem um tiro e demite-se o V Governo Provisório, liderado pelo general Vasco Gonçalves. Sobem, então ao poder os moderados representantes do chamado Grupo dos 9 onde pontificam alguns dos militares da revolução e que haviam sido afastados durante o PREC, como Major Melo Antunes. Mudam-se os tempos e as vontades: o PS de Mário Soares o PPD (mais tarde PSD) de Sá Carneiro, passarão a governar ao centro e em alternância, até hoje.

Esvaiu-se a revolução, ficaram os ideais.
35 anos depois, do PREC é tudo o que se mantém vivo.