terça-feira, 30 de novembro de 2010

Passam 75 anos sobre a morte de um dos maiores vultos da língua e da cultura portuguesas


Fernando Pessoa  é considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".
Por ter crescido na África do Sul, para onde foi aos sete anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu a língua inglesa e das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa dedicou-se também a traduções desse idioma.
Ao longo da vida trabalhou em várias firmas como correspondente comercial. Foi também empresário, editor, crítico literário, activista político, tradutor, jornalista, inventor, publicitário e publicista, ao mesmo tempo que produzia a sua obra. Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objecto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. .
Morreu com 47 anos, a 30 de Novembro de 1935, em Lisboa cidade onde nasceu, vitimado por cirrose hepática ").


ÁLVARO DE CAMPOS foi o único heterónimo a manifestar fases poéticas diferentes ao longo da sua obra. Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo. Começa a sua trajectória como um decadentista, mas logo adere ao futurismo. Após uma série de desilusões com a existência, assume uma postura 'nilista', expressa naquele que é considerado um dos poemas mais conhecidos e influentes da língua portuguesa, Tabacaria. É revoltado e crítico e faz a apologia da velocidade e da vida moderna, com uma linguagem livre, radical.
O heterónimo RICARDO REIS é descrito como um médico que se definia como latinista e monárquico. De certa maneira, simboliza a herança clássica na literatura ocidental, expressa na harmonia e num certo bucolismo, com elementos epicuristas. O fim inexorável de todos os seres vivos é uma constante na sua obra, clássica, depurada e disciplinada. Faz uso da mitologia não-cristã. Segundo Pessoa, Reis mudou-se para o Brasil em protesto à proclamação da República em Portugal e não se sabe o ano da sua morte. Em O ano da morte de Ricardo ReisJosé Saramago continua, numa perspectiva pessoal, o universo deste heterónimo após a morte de Fernando Pessoa, cujo fantasma estabelece um diálogo com o seu heterónimo, sobrevivente ao criador.
Por sua vez, ALBERTO CAEIRO, nascido em Lisboa, teria vivido quase toda a vida como camponês sem estudos formais. Apenas com a instrução primária, é considerado o mestre entre os heterónimos. Após a morte do pai e da mãe, permaneceu em casa com uma tia-avó, vivendo de modestos rendimentos. Morreu de tuberculose. Também é conhecido como o poeta-filósofo, mas rejeitava este título e pregava uma "não-filosofia". Acreditava que os seres simplesmente são, e nada mais: irritava-se com a metafísica e qualquer tipo de simbologia para a vida.
Nos escritos pessoanos que versam sobre a caracterização dos heterónimos, Pessoa, dito "ele mesmo", assim como a Álvaro de Campos, Ricardo Reis e o meio-heterónimo Bernardo Soares, conferem a Alberto Caeiro um papel quase místico enquanto poeta e pensador. Dos heterónimos de Fernando Pessoa, Caeiro foi o único a não escrever em prosa, alegando que só a poesia seria capaz de transmitir a realidade. Possuía uma linguagem estética directa, concreta e simples mas, ainda assim, complexa do ponto de vista reflexivo. A sua obra está agrupada na colectânea Poemas Completos de Alberto Caeiro.