sábado, 6 de novembro de 2010

Olhe que não, doutor, olhe que não...


Faz hoje 35 anos que aconteceu o debate televisivo que, até hoje, terá sido o mais decisivo de quantos já se realizaram.
Soares e Cunhal protagonizaram um 'duelo', durante cerca de quatro horas, em representação de cada um dos lados em que o país se dividira desde o chamado 'Verão quente' e naquele Outono de 1975, já à beira de uma guerra civil.
Mário soares tinha ganho as eleições para a Assembleia Constituinte e os militares da ala moderada do MFA, com o apoio do Presidente da República General Costa Gomes, tinham substituído General Vasco Gonçalves, pró-comunista, pelo Almirante Pinheiro de Azevedo, por sua vez alvo de grande contestação dos sectores da extrema esquerda e do partido comunista.
Os dois moderadores, Joaquim Letria e José Megre, praticamente nem se ouviram. nem sentiram necessidade de intervir, pois os dois políticos não deixavam espaço a mais ninguém. Ficou célebre a forma irónica e displicente com que Álvaro Cunhal rebateu as acusações de Mário Soares segundo as quais, o partido comunista apoiado nos militares radicais, pretenderia instaurar uma ditadura de pendor comunista em Portugal, enquanto Álvaro Cunhal que acusava o adversário de se ter colocado com 'chefe da reacção' respondia sorridente: "Olhe que não, doutor, olhe que não...".
Três semanas depois acontece a tentativa de tomada de poder pelos militares radicais apoiados nas forças pró-comunistas que são derrotados pela ala moderada do MFA, apoiadas pelos socialistas e outras forças mais à direita. Era o '25 de Novembro', como ficou para a história e que hoje é ainda pomo de discórdia quanto à interpretação das reais motivações de cada um dos lados. 
Mas, para a história da televisão portuguesa também fica esse grande momento de dois dos maiores políticos de sempre.