domingo, 5 de setembro de 2010

Os 'destrabalhados'

Uma das coisas que ouvi de empresários e de outras pessoas geralmente muito bem empregadas, é que já não há empregos.
Até é voz corrente que, quando se anda à procura de emprego, geralmente não se encontra nenhum porque não há nada disponível com esse nome uma vez que até há empresários que dizem que não admitem nas suas empresas quem estiver à procura de emprego porque isso é sinal de quem não quer trabalho.
É que, país que se preze, hoje em dia, já não tem empregos, pelo menos para oferecer assim ao deus dará. Veja-se, por exemplo, a China. Alguém se atreverá a pensar que existe um chinês que pertença à vulgar classe trabalhadora que tenha emprego? Pois, eu não acredito que trabalhar durante catorze e mais horas por dia a troco de dez reis de mel coado (padrão remuneratório que significa quase nada!), sem direitos, sem garantias, sem protecção social, possa dizer que tem um emprego. Aliás, é assim por todo o sudoeste asiático. Então não pertencem este países ao célebre grupo dos 'tigres asiáticos' ou lá o que é, que crescem a dois dígitos?
Ora está-se mesmo a ver que, na união europeia, todos os governos se esfalfam para incentivar o desaparecimento de tudo o que cheire a emprego para que assim não tenham de sustentar a imensa vergonha de serem países com milhões de desempregados e, também deve ser por isso que as empresas já não querem chamar-se entidades empregadoras, nem querem assumir qualquer responsabilidade social porque isso são princípios mais que ultrapassados para esta selva e ainda por cima custam os olhos da cara (expressão erudita cujo sinónimo popular, não estou disposto a dizer).
É por isso que as orientações que o governo tomou de retirar as chamadas medidas sociais de apoio e incentivo ao emprego se justificam plenamente porque como já não se quer nem ouvir falar em empregos, não faz sentido apoiar e incentivar uma coisa que não se deseja ter.
Por outro lado, para se ter direito ao subsídio de desemprego tem de ter estado mais tempo empregado, também se compreende. Como não vai haver empregos não se justifica manter medidas de protecção de pessoas que não podem estar desempregadas porque não podem perder uma coisa que não existe. Com medidas destas o país vai tornar-se mais competitivo porque as empresas beneficiam deste sistema, continuando a despedir o pessoal que tem empregos, para depois dar trabalho, de preferência precário, mais novo e com menor salário. E nem precisam de se deslocalizar, o que é sempre uma chatice, pois passam a ter mão-de-obra não a dez reis de mel coado, mas já ao preço da uva mijona que é mais apropriado para o nosso país e quer dizer praticamente o mesmo.
O desemprego vai assim diminuindo a olhos vistos como se comprova com os dados do instituto do Emprego que nos dizem haver muito menos gente inscrita e ao contrário do que dizem o INE e o Eurostat, que são uns mentirosos do catano. Claro está que as pessoas não são parvas. Para que irá um cidadão inscrever-se num centro de emprego, se emprego é coisa que não existe. Brincamos ou quê?
Na realidade, os cerca de 700.000 cidadãos portugueses que andam por aí sem empregos é que estão bem trabalhados por não terem trabalho e por terem políticos e governantes e mais não sei quantos familiares e amigos dos familiares e amigos dos amigos com belíssimos empregos.