domingo, 10 de maio de 2020

O MAIOR CICLISTA PORTUGUÊS DE TODOS OS TEMPOS

JOAQUIM AGOSTINHO, de Brejenjas para o mundo.
O maior ciclista português de todos os tempos, só aos 25 anos, ingressou no Sporting Clube de Portugal a convite de João Roque, numa altura em que, após ter regressado de África onde cumpriu o serviço militar, já se destacava nas corridas de amadores.
Conta-se que Joaquim Agostinho (cunhado de João Roque) quando ia para o trabalho, montado na sua velha "pasteleira", apanhava a equipa do Sporting em treinos de estrada para os lados de Torres Vedras e por vezes acompanhava-os de tal maneira que se punha na frente a puxar com boa disposição de todos.
Em Abril de 1962, logo no primeiro ano de profissional, foi incluído na primeira equipa de ciclismo do Sporting para a Volta a Portugal, e terminou num sensacional 2º lugar.
Descoberto por Jean de Gribaldy, este leva-o para equipas estrangeiras, mas depois de um 2º lugar na Vuelta de 1974.
Mas o seu lugar era no Tour entre os melhores do mundo, onde em 13 participações fez 8 top "ten" e dois 3º lugares, com 5 vitórias em etapas, incluindo o mítico Alpe d'Huez em 15 de Julho de 1979, onde foi colocado em sua honra um busto em bronze.
Ficaram célebres as crónicas do jornalista de "A Bola" Carlos Miranda que sempre acompanhou a carreira de Agostinho de perto, pelas estradas de França onde relatou episódios tão reveladores do carácter como homem e desportista.
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Em 1975, Joaquim Agostinho corre um contra-relógio no Tour de França com a camisola do Sporting mas depois de passar dois opositores, reduz a velocidade sem explicação.
O seu director desportivo, Geminiani, grita-lhe do carro:: “Passez, Joaquim. Passez!”.
Mas contra toda a lógica, o ciclista não acelera e acaba por ficar apenas em quinto lugar na etapa. No final, Geminiani disse-lhe que ele poderia ter feito muito mais mas Agostinho responde, sem hesitações:
“Eu ia lá passar o senhor Poulidor!” [Raymond Poulidor, um dos ciclistas mais carismático do Tour de França].
Numa outra edição do Tour, numa etapa alpina, sob um calor abrasador, Luis Ocaña, líder da equipa Bic onde Agostinho era o seu segundo, confessa-lhe que está a morrer de sede. O português dá-lhe o resto da água da sua garrafa, mas o espanhol está desesperado:
“Tenho que parar. Não consigo correr mais”.
O português responde-lhe:
“Não podes desistir. Se não perdes a camisola amarela”.
É,então que Agostinho vê uma casa perdida no meio da serra sai da estrada sem dizer nada e passados cinco quilómetros, os colegas ouvem o seu assobio característico na parte de tras do pelotão e era Agostinho com uma bilha de água às costas oferecida pelos idosos que viviam na casa.
E deu água não só a Ocaña, como aos restantes corredores que vinham com eles. Merckx, o grande rival do espanhol, não resistiu a desabafar:para Ocaña
“Se eu tivesse metade da força do Agostinho, garanto-te que já tinhas perdido a camisola amarela”.
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Agostinho era assim, com tanto de humildade como de uma irreverência que, por vezes, amuava por não ter tido liberdade para saltar do pelotão e rebentar com aquilo tudo, como ele dizia. Mas, também, deu muitas quedas, algumas sérias pois quando nas primeiras voltas a França teve de correr no meio de grupos maiores e mais velozes que em Portugal.
Representou Portugal em dois campeonatos mundiais de estrada (1975 e 1976) tendo sucessivamente terminado nos 15º e 10º lugares-
Voltas a Portugal foram 5 seguidas (entre 1969 e 73).
No entanto, acabou desclassificado por doping em 69 e 73, pelo que só consta com três triunfos no seu palmarés, que nunca aceitou, dizendo-se sempre inocente.
Mais 25 vitórias em etapas.
Foi campeão nacional de fundo 6 anos consecutivos (entre 1968 e 73, aos quais somou títulos nacionais de perseguição individual de 1971 e de contra-relógio por equipas em 1968 e 69.
Vários Grandes Prémios conquistados com a camisola do Sporting e 2º lugar na Volta ao Luxemburgo de 1969 e 5º lugar na Volta à Suíça de 1972.
Estes feitos valeram-lhe 4 Prémios Stromp na categoria Atleta Profissional, (1968, 1969, 1971 e 1972), aos quais viria a juntar um 5º na categoria Saudade, a titulo póstumo em 1985
A ÚLTIMA CORRIDA
A 30 de Abril de 1984, Volta ao Algarve, Um cão atravessa-se à frente da sua bicicleta e Agostinho tem uma queda feia. Ajudado pelos colegas, ainda pedala 300 metros até à meta. Todos o aconselham a ir para o hospital, mas a teimosia fala mais alto e o atleta garante que “não é nada de especial” e fica sentado no chão, encostado à ambulância.
Só mais tarde, na pensão, ao vomitar e perder os sentidos é que se desloca ao Hospital de Faro mas acaba por decisão médica de ter se ir para Lisboa. Sem helicóptero ao dispor, viaja de ambulância os 300 quilómetros fatais.
Na capital, é operado por João Lobo Antunes, no Hospital da CUF, mas já é tarde. A fractura do crânio é-lhe fatal.
Morre dez dias depois, a 10 Maio, deixando o país de luto.
Tinha 41 anos!